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"Violência sexual do Hamas" converte-se em mais uma batalha na ONU

Os atos de violência sexual atribuídos ao Hamas estão a tornar-se mais um episódio na batalha narrativa que hoje se trava entre israelitas e palestinianos no Conselho de Segurança da ONU, com as grandes potências a alinharem com os respetivos aliados.

"Violência sexual do Hamas" converte-se em mais uma batalha na ONU
Notícias ao Minuto

07:19 - 12/03/24 por Lusa

Mundo Conselho de Segurança

Israel enviou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, a Nova Iorque, acompanhado por familiares das vítimas dos atentados de 07 de outubro, mas este nem se encontrou com o secretário-geral António Guterres, mais um sinal do azedume das relações do Estado hebreu com a ONU e a maioria das suas instituições, refere a agência de notícias espanhola EFE.

A sessão de segunda-feira foi convocada a pedido de Israel por três potências ocidentais - EUA, Reino Unido e França - e consistiu numa intervenção da Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para a Violência Sexual em Conflitos, Pramila Patten, que se limitou a ler as conclusões que apresentou na semana passada, na sequência de uma recente visita a Israel.

Pramila Patten afirmou ter "informações claras e convincentes de violência sexual, incluindo violação, tortura sexual e tratamento degradante, cometida contra reféns", e indícios de que essa violência poderá ainda estar a ocorrer, bem como de episódios de violação coletiva durante os ataques de 7 de outubro.

Mas defendeu que isso "não justifica a punição coletiva do povo de Gaza". Tal como em tantos outros conflitos, os EUA, o Reino Unido e a França elogiaram a intervenção de Patten e condenaram a violência sexual, independentemente da sua origem, embora a representante dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, tenha alertado para as "falsas equivalências", que consistem em julgar da mesma forma os atos de Israel, "uma democracia", e a "tomada de reféns por uma organização terrorista".

Os representantes da China e da Rússia, por seu lado, distanciaram-se do relatório de Patten: a representante adjunta russa Maria Zabolotskaya questionou "a reputação de Patten, em geral, conhecida por utilizar falsidades no decurso do seu trabalho, o que certamente mina a confiança nas suas conclusões".

Zabolotskaya disse estar surpreendida com o facto de a ONU ter enviado uma missão a Israel para investigar as alegações de violência sexual a pedido do seu governo, mas não ter encontrado tempo para analisar o caso dos 7.500 palestinianos detidos nestes meses de guerra sem um processo justo ou acusações concretas por parte daquele país.

O representante adjunto da China, Geng Shuan, não pôs em causa a credibilidade de Patten, mas insistiu, por seu lado, "nos danos indescritíveis infligidos às mulheres de Gaza em cinco meses de guerra, durante os quais morreram 9.000 mães e filhas e milhares de outras estão desaparecidas, sem acesso aos bens de sobrevivência mais básicos".

O embaixador palestiniano na ONU, Riyad Mansour, mostrou-se indignado com o facto de as alegações israelitas de violência sexual ao longo dos anos terem sido ignoradas pelo Conselho de Segurança, enquanto, na primeira oportunidade, Israel consegue que aquele conselho convoque uma sessão de emergência sobre aquela questão.

Mansour alertou para a capacidade de Israel de espalhar boatos, dando vários exemplos - os bebés decapitados, o quartel-general do Hamas no Hospital Al Shifa e a mulher grávida que o Hamas, alegadamente, cortou viva para lhe extrair o feto e matá-lo à sua frente - e salientou os "danos irreparáveis que causam no tempo que demora a desmenti-los".

O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, que encerrou o evento, mostrou-se particularmente contido, tendo mesmo aproveitado para felicitar os muçulmanos pelo Ramadão e apelar ao mundo para não equiparar o Hamas ao Islão e para exercer toda a pressão possível sobre o Hamas para que liberte os reféns que tem em seu poder.

Leia Também: Israel lançou ataque contra número dois do braço armado do Hamas

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