Israel. Rússia e China vetam resolução dos EUA para cessar-fogo imediato

A Rússia e a China vetaram hoje um projeto de resolução proposto pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU que determinava "um cessar-fogo imediato e sustentado" na guerra de Israel contra o Hamas em Gaza.

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© JACK GUEZ/AFP via Getty Images

Lusa
22/03/2024 ‧ 22/03/2024 por Lusa

Mundo

Israel/Palestina

O texto, da autoria de Washington, recebeu 11 votos a favor, uma abstenção - da Guiana - e três votos contra, entre eles da Rússia e da China, dois membros permanentes do Conselho de Segurança com poder de veto, além da Algéria.

A resolução, proposta após mais de cinco meses de guerra, marcou a primeira vez que os Estados Unidos pediram um cessar-fogo imediato em Gaza no Conselho de Segurança, após terem vetado vários projetos de resolução apresentados por outros países.

Contudo, mesmo antes da votação, o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya, já havia sinalizado que iria rejeitar a proposta de Washington, acusando o Governo norte-americano de tentar agradar ao eleitorado com a "menção a um cessar-fogo em Gaza" e de tentar "garantir a impunidade de Israel".

O diplomata russo acusou ainda o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e a embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, de "enganar a comunidade internacional".

"Quase seis meses se passaram, Gaza foi praticamente varrida da Terra e, agora, a representante dos EUA, sem pestanejar, vem afirmar que Washington começou finalmente a reconhecer a necessidade de um cessar-fogo. Este lento processo de pensamento de Washington custou a vida de 32.000 palestinianos pacíficos", criticou Nebenzya, recordando que os norte-americanos vetaram três outras resoluções que exigiam um cessar-fogo no enclave.

Concretamente, a Rússia opôs-se à linguagem usada na resolução, a qual classificaram de "extremamente politizada".

Ao contrário de outras resoluções, em que o Conselho de Segurança "exigia" uma determinada ação, o texto norte-americano "determinava" o "imperativo de um cessar-fogo imediato e sustentado" para proteger os civis -- uma linguagem que não agradou a várias delegações.

O embaixador russo avaliou que o termo "determina" não é suficiente "para salvar as vidas de civis palestinianos", frisando que o mandato do Conselho de Segurança da ONU está investido de um mecanismo único para exigir um cessar-fogo e, quando necessário, para obrigar ao seu cumprimento.

"Já afirmámos que não toleraremos mais resoluções inúteis que não contenham um apelo a um cessar-fogo que não nos leve a lado nenhum", declarou Nebenzya.

A Rússia e a China também consideraram que o projeto dos EUA contém "uma luz verde efetiva" para Israel montar uma operação militar em Rafah.

A Guiana, único país a abster-se, justificou o seu voto com o facto de a resolução norte-americana não exigir um cessar-fogo imediato, mas apenas "determinar o imperativo" do mesmo.

Após o voto, Linda Thomas-Greenfield criticou Pequim e Moscovo pelo veto, em mais uma troca de acusações entre as três potências.

"A grande maioria deste Conselho votou a favor desta resolução, mas infelizmente a Rússia e a China decidiram exercer o seu veto (...) por razões profundamente cínicas e mesquinhas. (...) A China e a Rússia simplesmente não quiseram votar a favor de uma resolução que foi projetada pelos Estados Unidos porque preferem ver-nos fracassar do que ver este Conselho ter sucesso", argumentou.

"Todos sabemos que a Rússia e a China não estão a fazer nada diplomaticamente para promover a paz duradoura ou para contribuir significativamente para o esforço de resposta humanitária", acrescentou a representante dos EUA.

A votação de hoje marcou a nona vez que o Conselho de Segurança votou um projeto de resolução sobre a guerra entre Israel e o Hamas. Apenas dois dos oito projetos de resolução votados anteriormente pelo Conselho foram adotados, e nenhum deles dizia respeito a um cessar-fogo. 

Entretanto, parte dos 10 Estados-membros eleitos do Conselho de Segurança têm estado a redigir a sua própria resolução, que exigiria um cessar-fogo humanitário imediato durante o mês sagrado muçulmano do Ramadão, que começou em 10 de março, para ser "respeitado por todas as partes, levando a um cessar-fogo permanente e sustentável". 

Na sua versão atual, esse projeto de resolução - cuja votação ainda não está agendada - exige também a libertação imediata e incondicional de todos os reféns. 

Contudo, a embaixadora norte-americana considerou que, "na sua forma atual", esse texto pode comprometer as negociações em curso e "poderá dar ao Hamas uma desculpa para se afastar do acordo que está sobre a mesa".

O Conselho de Segurança tem sido alvo de críticas crescentes por ainda não ter adotado uma resolução apelando a um cessar-fogo no enclave, à medida que cresce também a contestação contra os Estados Unidos por continuar a apoiar Telavive, especialmente tendo em conta a situação dramática que Gaza enfrenta, com mais de 32 mil pessoas mortas e a restante população faminta.

Os EUA, que forneceram a Israel apoio político e militar durante a guerra, inclusive através da venda de armas, vinham-se opondo nos últimos meses a quaisquer exigências de cessar-fogo e têm sido avessos a este termo nas resoluções do Conselho de Segurança e nas suas mensagens públicas.

[Notícia atualizada às 14h46]

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