"Os titulares desse dossiê, que são a Argélia e o grupo de países árabes, farão aquilo que decidirem. Sim, os Estados Unidos não querem submeter o tema ao Conselho de Segurança. Essa é a vontade deles e é assim que eles votarão. Deixe-os demonstrar ao mundo como eles atuam", disse o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya, numa declaração a jornalistas na sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
"Mas penso que a maioria dos Estados-membros gostaria que a resolução fosse submetida ao Conselho de Segurança. Já tivemos uma reunião do chamado 'comité de admissão', que não trouxe nada de novo em relação ao que aconteceu em 2011. E não creio que a reunião de hoje traga algo de novo também. Portanto, (...) agora cabe à Argélia e à Palestina e ao Grupo Árabe decidir o que farão a seguir", acrescentou Nebenzya.
O comité de admissão de novos membros da ONU voltou hoje a reunir-se a portas fechadas para discutir a questão palestiniana, depois de uma primeira ronda inconclusiva na segunda-feira.
Depois de anos de negociações fracassadas, os palestinianos recorreram às Nações Unidas para realizar o seu sonho de um Estado independente e de adesão plena à ONU.
A Palestina é considerada um "Estado observador" na ONU desde 2012, um estatuto que só partilha com o Vaticano, embora um ano antes tivesse solicitado a entrada como membro de pleno direito.
Em 2011, foi feito um pedido de adesão plena, mas permaneceu pendente porque o Conselho de Segurança não conseguiu chegar a um consenso para uma decisão formal.
Na ocasião, os Estados Unidos anunciaram que pretendiam usar o poder de veto se uma maioria de nove fosse alcançada, apesar de proclamarem apoio à "solução de dois Estados".
Esta semana, o vice-embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, admitiu aos jornalistas que a posição do seu país não mudou e que o reconhecimento total da Palestina é algo que deveria ser negociado bilateralmente entre Israel e os palestinianos, não na ONU, embora não tenha dito explicitamente que seu país usaria o veto se necessário.
Já o embaixador israelita junto à ONU, Gilad Erdan, falou em termos muito mais extremos, dizendo que o eventual reconhecimento da Palestina é "uma violação flagrante da Carta das Nações Unidas" e "perpetua o conflito".
Na semana passada, 120 Estados-membros das Nações Unidas - de um total de 193 - comprometeram-se a apoiar a adesão plena da Palestina à organização.
Os 120 países representam três grupos (árabe, muçulmano e não alinhado) e redigiram uma carta conjunta enviada às diferentes entidades da ONU que participam no processo: o secretário-geral, o Conselho de Segurança e a Assembleia-Geral.
Na missiva, os 120 signatários apoiam a retoma do processo iniciado em 2011 -- data em que a Palestina solicitou pela primeira vez a sua admissão à ONU -- e que o Conselho de Segurança proceda ao pedido junto da Assembleia-Geral.
Os Estados signatários lembram ainda que no mundo já existem 140 países que reconhecem o Estado da Palestina.
De acordo com os regulamentos da ONU, o Conselho de Segurança deve criar um comité, composto por todos os 15 membros, para estudar o pedido de admissão e redigir um relatório.
Caso não seja aprovado, o pedido segue para votação na Assembleia-Geral da ONU e é devolvido novamente ao Conselho de Segurança, para apreciação, escreveu hoje a agência noticiosa Efe.
Para o pedido ser aprovado, é preciso o voto favorável de nove dos 15 membros do Conselho de Segurança e nenhum veto dos membros permanentes.
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