"O USAFRICOM [comando norte-americano de África] está a planear o reposicionamento de algumas forças militares norte-americanas do Chade, uma parte das quais já estava programada para partir", admitiu o porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano, general Patrick Ryder, numa conferência de imprensa em Washington esta quinta-feira, na sequência de uma notícia nesse sentido, publicada no mesmo dia pelo diário New York Times (NYT).
"Trata-se de uma medida temporária, que faz parte de uma revisão em curso da nossa cooperação em matéria de segurança, que será retomada após as eleições presidenciais de 06 de maio no Chade", acrescentou.
Em relação ao Níger, Ryder confirmou o "início" das conversações, igualmente este dia 25, em Niamey, entre a embaixadora dos Estados Unidos no país, Kathleen FitzGibbon, e o major-general Kenneth Ekman, diretor de Estratégia do USAFRICOM, e a junta militar no poder "sobre uma retirada ordenada e segura das forças dos Estados Unidos do Níger".
O porta-voz do Pentágono sublinhou que Washington continua "empenhado" em "combater as organizações extremistas violentas na África Ocidental", mas não precisou para onde serão deslocados os militares norte-americanos estacionados na região.
Os Estados Unidos investiram 110 milhões de dólares numa base de drones no Níger, fundamental para o AFRICOM na monitorização de organizações extremistas violentas, mas o porta-voz do Pentágono não revelou se Washington já tem um local alternativo para deslocar os cerca de 1.000 militares que lá tem estacionados, quando interrogado expressamente sobre a questão pelos jornalistas.
A decisão da retirada das forças especiais norte-americanas do Chade - cerca de 75 boinas verdes do 20.º Grupo de Forças Especiais da Guarda Nacional, segundo o NYT - acontece no contexto do corte de relações diplomáticas e militares entre vários países do Sahel -- nomeadamente do Mali, Burkina Faso e Níger - e o Ocidente -- sobretudo a França, mas também Estados Unidos -, e do reforço paralelo das relações entre os mesmos países e a Rússia.
No caso do Chade, até agora um aliado sólido do Ocidente na região, não é ainda claro se a saída dos militares norte-americanos -- que regressam já este fim de semana a casa, através da Alemanha, segundo o NYT e o Washington Post esta quinta-feira - será definitiva, não obstante a declaração de Ryder.
A decisão do Pentágono dá resposta a uma carta enviada em 08 de abril, pelo chefe de Estado-Maior da Força Aérea chadiana, general Idriss Amine Ahmed, ao adido militar na embaixada dos Estados Unidos em N'Djamena, pedindo-lhe que suspendesse "imediatamente as atividades militares" na base área de Adji Kossei (BAK), onde os soldados norte-americanos treinam as forças especiais chadianas na luta contra o grupo extremista islâmico Boko Haram.
A carta "apanhou de surpresa e intrigou os diplomatas e oficiais militares norte-americanos", segundo dois funcionários norte-americanos ao NYT, sob anonimato, porque não foi enviada através dos canais diplomáticos oficiais, e parece ser uma tática de negociação de alguns membros das forças armadas e do governo para pressionar Washington a conseguir um acordo mais favorável antes das eleições de maio, ainda segundo fontes não reveladas pelo jornal.
Certo é que, diferentemente do que aconteceu no Níger com os Estados Unidos -- e no Mali, Burkina Faso e também Níger com França -, o líder da junta militar no Chade, general Mahamat Idriss Déby Itno, não pediu a saída dos militares norte-americanos, assim como não afastou a França, de quem é, de longe, o principal aliado na região.
O NYT dá, no entanto, voz a alguns analistas segundo os quais "a retirada dos franceses é inevitável", atendendo ao reforço recente dos laços Mahamat Déby Itno com os líderes golpistas do Sahel e mesmo com a Rússia, onde se deslocou no início deste ano para se encontrar com o Presidente, Vladimir Putin.
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