Numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter), o Ministério Público polaco declarou estar a "conduzir uma investigação relacionada com a informação de que um juiz (...) pediu asilo político na Bielorrússia", indicando um artigo do Código Penal relativo a espionagem.
O artigo em causa prevê uma pena de entre oito anos e prisão perpétua para quem fornecer a serviços secretos estrangeiros informações que possam "causar danos à República da Polónia".
Para surpresa das autoridades polacas, Szmydt pediu hoje asilo à vizinha Bielorrússia, que mantém relações tensas com Varsóvia.
"Peço desculpa pela minha audácia, mas tomo a liberdade de pedir a proteção do Presidente [Alexander Lukashenko] e da Bielorrússia", afirmou Szmydt numa conferência de imprensa em Minsk.
"Há aqui um líder muito sábio", declarou, citado pela agência noticiosa Belta, referindo-se a Lukashenko, no poder na Bielorrússia desde 1994.
Nas redes sociais, Tomasz Szmydt escreveu ser juiz do Tribunal Administrativo Regional de Varsóvia e ter escolhido abandonar o seu país natal devido a um "desacordo político" com o Governo polaco.
O juiz é considerado próximo do partido nacionalista populista Lei e Justiça (PiS), que perdeu o poder no fim do ano passado para a atual coligação europeísta.
Juntamente com a ex-mulher, ele participou nomeadamente numa campanha de ódio na Internet contra juízes contrários às reformas do sistema judicial introduzidas pelo PiS e classificadas pela oposição -- e também por Bruxelas e Washington -- como uma ameaça ao Estado de Direito na Polónia.
Na sua mensagem, difundida em russo e em polaco, o juiz protestou "junto das autoridades polacas que, sob a influência dos Estados Unidos e do Reino Unido, estão a encaminhar o país para a guerra".
O juiz não especificou em que data chegou à Bielorrússia e, numa entrevista concedida à agência noticiosa russa Ria Novosti, asseverou que corria o risco de ser judicialmente perseguido num "caso de espionagem".
Os serviços secretos polacos (ABW) explicaram hoje, num comunicado, que tinham iniciado uma auditoria "para verificar a extensão das informações confidenciais a que o juiz teve acesso".
"Estou, francamente, chocado", reagiu hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski.
"Já tivemos um traidor antes, num caso semelhante", acrescentou, em declarações à televisão polaca.
Referia-se a um soldado polaco, Emil Czeczko, que desertou para a Bielorrússia em 2021 e foi encontrado morto em março de 2022, segundo as autoridades bielorrussas.
"Não sei de que foge Tomasz Szmydt", disse Stanislaw Zaryn, conselheiro do Presidente polaco e antigo porta-voz dos serviços secretos, durante o Governo liderado pelo PiS.
"No passado, atos semelhantes foram cometidos por aqueles que temiam ser responsabilizados pelas suas ações na Polónia", observou.
As relações entre a Polónia e a Bielorrússia são tensas desde a violenta repressão pelas autoridades de Minsk de um grande movimento de contestação da sociedade bielorrussa em 2020, seguida de uma crise migratória na fronteira entre os dois países no final de 2021, que Varsóvia afirma ter sido fomentada por Alexander Lukashenko.
A situação degradou-se mais ainda desde que a Bielorrússia foi usada como base de retaguarda para a ofensiva lançada pela Rússia em fevereiro de 2022 contra a Ucrânia, país que a Polónia, membro da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental), tem ativamente apoiado desde então.
Leia Também: Polónia saúda "boa notícia" após fim anunciado de procedimento da UE