"Perdemos a principal porta de entrada da ajuda humanitária [Kerem Shalom]", frisou em entrevista à agência France-Presse (AFP), Andrea De Domenico, chefe do gabinete da Agência Humanitária das Nações Unidas (Ocha) nos territórios palestinianos ocupados.
Israel encerrou no domingo este importante ponto de passagem a sul do pequeno território costeiro palestiniano, depois de disparos de foguetes reivindicados pelo braço armado do Hamas terem matado quatro soldados israelitas naquele local.
O Exército israelita apelou depois aos residentes dos bairros orientais de Rafah para se retirarem, antes de assumir o controlo, do lado palestiniano, do ponto de passagem de Rafah entre Gaza e o Egito e fechá-lo também.
Embora Israel afirme ter reaberto o Kerem Shalom na quarta-feira, Andrea De Domenico diz que a entrega de ajuda continua "extremamente difícil".
A passagem de Rafah, por onde passa todo o combustível destinado a Gaza, permanece fechada. Contudo, "em Gaza não há reservas de combustível".
Isto significa que "não há movimentos" e "isto paralisa completamente as operações humanitárias", destacou De Domenico.
Este apelo surge num momento em que a comunidade internacional apela ao aumento da ajuda a Gaza, onde sete meses de conflito causaram uma crise humanitária aguda.
Segundo Domenico, mesmo antes do encerramento da passagem de Rafah, as Nações Unidas procuravam há semanas outros meios de transporte de combustível para o território, num contexto de profunda preocupação com a perspetiva agitada de Israel de uma vasta operação terrestre na cidade de Rafah, que abriga 1,4 milhão de pessoas, segundo a ONU.
Israel garantiu à ONU que estava tentando encontrar uma solução, garantiu De Domenico, embora duvide muito que alcance os 200.000 litros necessários por dia.
O chefe da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse na quarta-feira que os hospitais no sul da Faixa de Gaza tinham apenas "três dias de combustível restantes".
Catherine Russell, diretora da Unicef, a agência das Nações Unidas para a infância, alertou hoje que se o combustível não fosse permitido "as consequências seriam sentidas quase imediatamente".
Já o Governo da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, denunciou hoje que nos últimos dois dias Israel impediu a entrada de mais de 400 camiões de ajuda humanitária e 160 pacientes oncológicos e a saída de 160 doentes com cancro e feridos, para receberem tratamento médico.
Por outro lado, o Reino Unido completou hoje a sua décima primeira entrega aérea de ajuda em Gaza, atingindo um total de 110 toneladas, revelou o Ministério da Defesa britânico em comunicado.
Este país forneceu refeições preparadas, água, arroz, alimentos enlatados e farinha através dos voos de 11 aviões da Força Aérea Britânica (RAF) e 120 paraquedas, e só hoje 12 toneladas destes fornecimentos foram depositadas no norte de Gaza.
A ajuda é lançada ao longo da costa norte de Gaza e o pessoal britânico trabalha em estreita colaboração com a Força Aérea jornada para planear e executar cada missão, segundo a nota.
O Departamento de Defesa dos EUA (Pentágono) adiantou hoje que continua à espera que as condições meteorológicas no Mediterrâneo melhorem para que seja posicionado o porto temporário construído para aumentar a ajuda a Gaza, que foi finalizado esta semana.
Este projeto consiste em dois cais: um flutuante onde ficarão atracados os navios carregados de ajuda e outro denominado Trident, que será a "calçada" ao longo da qual o viajarão os camiões que levarão a ajuda para terra.
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