Líder sérvio da Bósnia reitera ameaça de separação antes de votação na ONU

O líder do território da Bósnia controlado pelos sérvios reiterou hoje a ameaça de se separar do país, na véspera da ONU votar uma resolução para assinalar 11 de julho como Dia Internacional da Memória do Genocídio de Srebrenica.

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Lusa
22/05/2024 23:41 ‧ 22/05/2024 por Lusa

Mundo

Srebrenica

A proposta de resolução da ONU lançada pela Alemanha e pelo Ruanda foi apoiada pelos bósnios, que são maioritariamente muçulmanos, mas provocou protestos e uma campanha contra a medida por parte do presidente sérvio-bósnio, Milorad Dodik, e do Presidente populista da vizinha Sérvia Aleksandar Vucic.

Quer a Sérvia, quer os sérvios da Bósnia negam que tenha ocorrido genocídio em Srebrenica, embora isto tenha sido estabelecido por dois tribunais da ONU.

O presidente da Republika Srpska, a entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina que compreende cerca de metade deste país dos Balcãs, frisou na rede social X que a resolução da ONU está a ser imposta ao país por apoiantes dos bósnios muçulmanos e que dividirá o país.

Dodik acrescentou que o seu Governo pode propor formalmente uma separação esta quinta-feira.

"A Bósnia e Herzegovina chegou ao seu fim, ou para ser mais preciso, foi levada ao fim. Tudo o que resta é que todos nós façamos um esforço para sermos bons vizinhos e partir em paz", salientou.

Dodik fez várias ameaças deste género no passado para que os territórios controlados pelos sérvios se separassem da Bósnia e se juntassem à vizinha Sérvia. Dodik e alguns outros responsáveis sérvios da Bósnia estão sob sanções dos EUA e do Reino Unido, em parte por comprometerem um plano de paz dos EUA que pôs fim à guerra da Bósnia de 1992-95.

Para as mulheres que perderam os familiares no massacre, qualquer negação da dimensão do crime significa ainda mais sofrimento, sendo que o voto da ONU "significa muito" para as vítimas, a verdade e a justiça, de acordo com Munira Subasic, do grupo Mães de Srebrenica.

"As pessoas que vivem em mentira, que não conhecem a verdade, precisarão desta resolução da ONU mais do que nós", sublinhou Subasic.

"Esperamos uma decisão justa amanhã [quinta-feira], uma decisão que nos dirá, às famílias, que existe justiça no mundo, que existe humanidade", acrescentou Nura Begovic, que também perdeu vários familiares em Srebrenica.

Em julho de 1995, a cinco meses do final da guerra civil iniciada na Bósnia-Herzegovina durante a primavera de 1992, cerca de 7.500 homens e rapazes muçulmanos bósnios em idade de combater foram mortos na sequência do assalto militar das forças sérvias bósnias a este enclave do oeste, que decorreu entre 06 e 11 de julho.

As forças sérvias enviaram as mulheres e crianças para as regiões controladas pelos bosníacos (muçulmanos bósnios), e indicaram que a maioria das vítimas foi morta em combate quando milhares de detidos, muitos deles armados, escaparam dos centros de detenção em Srebrenica e tentaram romper as linhas sérvias em direção a territórios controlados pela Armija, o seu Exército.

Em 2004, o extinto Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ), uma instância judicial 'ad hoc' da ONU com sede em Haia, determinou que os crimes cometidos em Srebrenica em julho de 1995 constituíam genocídio, uma deliberação apoiada pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), o principal órgão judicial das Nações Unidas, em 2007.

Em resposta, e caso seja aprovada, Belgrado já admitiu apresentar resoluções sobre alegados genocídios contra os sérvios pela Alemanha nazi e seus aliados croatas durante a Segunda Guerra Mundial, declarou recentemente o Presidente sérvio.

Para ser adotada, a resolução necessita do apoio de dois terços dos 193 países-membros da Assembleia-geral. Pelo facto de não passar no Conselho de Segurança da ONU, devido à previsibilidade dos vetos da Rússia e China, encarados como próximos aliados da Sérvia, não será vinculativa.

Leia Também: Resolução da ONU sobre genocídio de Srebrenica faz regressar fantasmas

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