Os Estados Unidos concluíram na semana passada este cais, cuja construção foi anunciada em março pelo Presidente Joe Biden. A infraestrutura visa aliviar as restrições impostas por Israel à entrega terrestre de ajuda à Faixa de Gaza, devastada por sete meses de guerra desencadeada pelo ataque do Hamas contra território israelita em 07 de outubro.
Desde o primeiro descarregamento, em 17 de maio, o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM), responsável pela operação de descarregamento do material que chega desde o Chipre, "tomou posse de 97 camiões", revelou hoje Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Nos primeiros dois dias, a própria população apreendeu o conteúdo de "um certo número de camiões" a caminho dos armazéns do PAM, acrescentou, especificando que a agência não perdeu nenhum camião.
Dujarric tinha explicado, na semana passada, que os camiões que atravessavam áreas onde "não houve ajuda" e onde a fome ameaça foram parados pela população, que "levou o que pode" por medo de não ver o bens fundamentais novamente.
Agora que "a operação está estabilizada, o PAM encontrou várias rotas para chegar ao seu armazém em Deir al-Balah", garantiu hoje.
Assim que chega ao armazém, a ajuda é disponibilizada às agências da ONU ou às organizações não-governamentais (ONG) para distribuição.
Desde o início das operações israelitas em Rafah, em 07 de maio, "a entrada de ajuda em Gaza tem sido muito limitada", alertou o Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (Ocha), em comunicado.
Entre 07 e 23 de maio, "apenas 906 camiões que transportavam ajuda humanitária entraram em Gaza através de todos os pontos de entrada operacionais, incluindo 143 através da passagem de Kerem Shalom, 62 através de Erez, 604 através de Erez-West e 97 a partir do cais flutuante", de acordo com dados do Ocha.
O Ocha não contabiliza a chegada de camiões do setor privado que passam por Kerem Shalom -- bens privados que, segundo o chefe da agência da ONU para os refugiados, os israelitas estão agora a dar prioridade.
A organização também não contabiliza bens "depositados no ponto de passagem" sem as condições de segurança e logísticas necessárias para que sejam recuperados pelas organizações humanitárias, acrescenta o comunicado.
A guerra em curso na Faixa de Gaza decorre da retaliação de Israel ao ataque sem precedentes de outubro perpetrado pelo Hamas em outubro e já causou mais de 35.700 mortos, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Em outubro, o Hamas matou mais de 1.170 pessoas, na maioria civis, além de fazer 252 reféns, segundo as autoridades israelitas.
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