Espanha reconheceu formalmente o Estado da Palestina, num esforço coordenado entre os países da Europa Ocidental, incluindo a Noruega e a Irlanda, anunciou a porta-voz do Governo, Pilar Alegría e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jose Manuel Albares, confirmando o que tinha já sido anunciado pelo primeiro-ministro, Pedro Sanchéz.
Pilar Alegria deu conta, citada pela agência France Presse, que o Conselho de Ministros espanhol aprovou e adotou um decreto que reconhece oficialmente o Estado da Palestina. "Uma importante decisão de reconhecimento do Estado Palestiniano", que tem "um objetivo: Ajudar israelitas e palestinianos a alcançar a paz", sublinhou, numa conferência de imprensa.
"Hoje é um dia que fica gravado na história de Espanha, um dia em que o nosso país diz que perante o sofrimento não é possível a indiferença e que é possível a paz, a solidariedade, o compromisso e a confiança na humanidade", disse, por sua vez, Albares.
O ministro espanhol defendeu que a decisão tomada hoje em Madrid é uma questão de justiça com o povo palestiniano, mas também "a única via para garantir a Israel a segurança que legitimamente reivindica e o único caminho viável para a paz na região".
"O povo palestiniano tem direito a um futuro de esperança e o povo de Israel tem direito a um futuro de paz e segurança. Depois de tantas décadas de dor e confronto sabemos que não pode haver uma coisa sem a outra. A segurança de Israel e a paz na região estão estreitamente entrelaçadas com a esperança do povo palestiniano de ter um Estado. Paz, esperança e segurança a que ambos os povos têm direito, exatamente o mesmo direito", acrescentou.
Pilar Alegria e Jose Manuel Albares sublinharam que Espanha, com a Noruega e a Irlanda, se somam hoje a uma "amplíssima maioria" de mais de 140 países que já reconhecem formalmente a Palestina como Estado.
Segundo o ministro, este "é o momento" para dar este passo, atendendo a "décadas de violência e destruição e a falar de paz", e num momento em que o conflito entre Israel e o grupo islamita radical Hamas na Faixa de Gaza já provocou o maior número de vítimas de sempre na região, a par de uma crise humanitária sem precedentes.
Albares reiterou ainda o compromisso de Espanha de desenvolver agora todos os esforços para concretizar a solução dos dois Estados e ser alcançada a paz no Médio Oriente e revelou que estarão na quarta-feira em Madrid, para encontros com o Governo espanhol, incluindo o líder do executivo, Pedro Sánchez, o primeiro-ministro palestiniano e vários ministros de países árabes.
"Temos de unir esforços", destacou, sublinhando que já cerca de 80 países subscrevem a proposta espanhola de ser realizada uma conferência internacional de paz para o Médio Oriente.
De lembrar que Israel criticou a decisão diplomática, que não deverá ter qualquer impacto imediato na guerra que trava em Gaza, mas que aumenta a pressão mundial sobre Telavive para que atenue a sua resposta militar ao ataque terrorista do ano passado, liderado pelo Hamas.
Numa declaração institucional, no início da manhã, o primeiro-ministro de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, já tinha revela que, na reunião de hoje do Conselho de Ministros, o Governo espanhol iria aprovar o reconhecimento do Estado da Palestina.
Após o anúncio de Sánchez, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, acusou o primeiro-ministro espanhol de ser cúmplice dos apelos à eliminação do povo judeu. "Khamenei, Sinwar e a vice-primeira-ministra Yolanda Diaz apelam à eliminação de Israel e à criação de um Estado islâmico de terror palestiniano do rio ao mar", escreveu Katz no X.
Em causa está o facto de Diaz ter terminado um discurso na semana passada com o slogan "do rio ao mar a Palestina será livre", e, desde então, tem dito que apoiava a solução de dois Estados. "Sanchez, quando não demite o seu deputado e declara o reconhecimento de um Estado palestiniano, é um parceiro no incitamento ao genocídio dos judeus e aos crimes de guerra", afirmou Katz.
De recordar que também a Noruega já reconheceu formalmente o Estado da Palestina, esta terça-feira, e prevê-se que a Irlanda faça o mesmo a partir também a parte de hoje.
Eslovénia e Malta disseram também que ponderam dar este passo em breve e somar-se a Espanha, Irlanda e Noruega.
Mais de 140 países reconhecem já a Palestina como Estado, alguns deles, membros da União Europeia (UE), como Bulgária, Chipre, República Checa, Hungria, Polónia, Roménia e Eslováquia, que deram o passo em 1988, antes de aderirem ao bloco europeu.
A Suécia fez o mesmo em 2014, cumprindo uma promessa eleitoral dos sociais-democratas então no poder.
O conflito foi desencadeado pelo ataque do grupo islamita Hamas em solo israelita de 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Desde então, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que provocou mais de 36.000 mortos e uma grave crise humanitária, segundo o Hamas, que governa o enclave palestiniano desde 2007.
[Notícia atualizada às 12h39]
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