Taipé é o único território chinês a assinalar 35 anos de Tiananmen
A repressão do regime chinês aos manifestantes da Praça Tiananmen completa terça-feira 35 anos, com Taipé a ser o único território de língua chinesa a assinalar a data e críticas a Pequim de organizações não-governamentais (ONG).
© Annice Lyn/Getty Images
Mundo Taipé
Em comunicado, a ONG Human Rights Watch (HRW) acusou as autoridades chinesas de "tentar apagar a memória do massacre", acrescentando que Zhan Xianling, uma das fundadoras das Mães de Tiananmen, grupo que reúne familiares das vítimas, está, entre outros ativistas, "sob vigilância policial à porta de sua casa".
Para Maya Wang, directora da HRW para a China, o governo chinês "está a tentar apagar a memória do Massacre de Tiananmen em toda a China e em Hong Kong". "Mas 35 anos depois, o governo tem sido incapaz de apagar as chamas da memória daqueles que arriscaram tudo para promover o respeito pela democracia e pelos direitos humanos na China".
Os Defensores dos Direitos Humanos da China (CHRD) na rede social X instaram à libertação de 27 envolvidos nas ações de Tiananmen. "Também eles têm sido alvo de duras represálias, numa altura em que o Estado do Partido Comunista Chinês procura branquear a sua história de atrocidades", lê-se.
De 03 para 04 de junho de 1989 soldados e tanques do Exército de Libertação do Povo Chinês invadiram a praça central de Pequim, onde durante várias semanas, centenas de milhares de estudantes e trabalhadores manifestavam-se para exigir o fim da corrupção e uma maior abertura política.
O número de mortos na sequência da repressão militar é ainda desconhecido e varia entre centenas e milhares, consoante a fonte.
Durante mais de três décadas, milhares de pessoas reuniram-se no emblemático Parque Victoria, em Hong Kong, para homenagear pacificamente e à luz de velas as vítimas da repressão, uma tradição que se repetiu pela última vez em 2019 e que foi substituída por um "carnaval" organizado por grupos pró-Pequim.
O grupo organizador das vigílias, a Aliança de Hong Kong em Apoio aos Movimentos Patrióticos Democráticos da China, extinguiu-se em setembro de 2021 após a detenção dos seus principais líderes - acusados de incitar à subversão. As autoridades deixaram de permitir assinalar a data face à necessidade de "salvaguardar a segurança nacional" daquele território.
Nos últimos dias, o governo de Hong Kong deteve oito pessoas, incluindo um antigo organizador da vigília, acusados de terem publicado "conteúdo sedicioso que incita ao ódio".
Trata-se das primeiras detenções conhecidas ao abrigo de uma nova lei de segurança nacional aprovada em março pelo governo de Hong Kong, em complemento ao quadro legislativo imposto em 2020 por Pequim para neutralizar os grandes protestos pró-democracia em 2019.
Segundo a agência EFE, as autoridades locais procuraram erradicar qualquer menção aos acontecimentos e o museu que exibe documentos e artefactos dos protestos de 1989 foi encerrado.
Os livros sobre o assunto também desapareceram das bibliotecas e, em maio de 2023, foi confiscado o "Pilar da Vergonha", uma estátua em homenagem às vítimas que já tinha sido retirada da Universidade de Hong Kong dois anos antes.
Em Taiwan, repete-se a iniciativa pública para recordar Tiananmen na praça em frente ao mausoléu de Chiang Kai-shek, no centro de Taipé, um símbolo da repressão a que a ilha esteve sujeita durante quatro décadas.
Como todos os anos, os manifestantes vão acender velas e levarão cartazes numa vigília que será a única a realizar-se nos territórios de língua chinesa.
Também está prevista uma exposição de arte no próprio mausoléu sob o título "LifeDeathPreserveForgotten", que reúne as obras de dezoito artistas de todo o mundo, incluindo Taiwan, China e Hong Kong, centrando-se nos anseios da democracia e da liberdade.
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