"Condenamos da forma mais enérgica os ataques flagrantes da coligação no poder na Republika Srpska [RS, a entidade sérvia bósnia] contra o Acordo de Paz [de Dayton], a ordem constitucional e jurídica da Bósnia-Herzegovina e a sua soberania e integridade territorial", assinala uma declaração divulgada em Sarajevo.
O documento foi adotado na sequência de uma sessão dos diretores políticos dos países membros do designado "Comité diretivo do conselho de implementação da paz" (PIC), um organismo integrado por 55 países e organizações que supervisionam o cumprimento do Acordo de Paz de Dayton que pôs termo à guerra civil no país.
A Rússia, membro do PIC mas próxima da liderança dos sérvios bósnios, não participou na reunião.
"Não será tolerado o comportamento das instituições da Republika Srpska que se oponha a Dayton", assegurou em conferência de imprensa em Sarajevo o alto representante internacional para a Bósnia-Herzegovina, o alemão Christian Schmidt.
O PIC condenou a "negação do genocídio de Srebrenica" por parte da RS, os seus ataques contra Schmidt e o Tribunal constitucional, e as denúncias de interrogatórios e sevícias da polícia da RS contra cidadãos muçulmanos bósnios (bosníacos).
Os países do PIC também sublinharam que a decisão da UE de março passado sobre o início das negociações de adesão da Bósnia-Herzegovina "constitui um momento histórico para este país" e pediu o comprometimento das instituições bósnias nesse caminho.
Schmidt congratulou-se pelo facto de a "comunidade internacional ter saído deste reunião ainda mais forte na intenção de promover a integração europeia e euro-atlântica da Bósnia-Herzegovina" e "eliminar os obstáculos nesse caminho".
O acordo de Dayton, assinado no final de 1995 após uma intervenção da NATO contra as forças sérvias bósnias, pôs termo a um conflito de três anos e meio (1992-1995), que provocou mais de 100.000 mortos e perto de dois milhões de deslocados e refugiados.
O território da RS representa cerca de 50% do frágil país. A outra metade situa-se na Federação, e com uma população total de cerca de 3,4 milhões.
A ex-república jugoslava continua a confrontar-se com as ambições secessionistas dos sérvios bósnios e uma crescente fratura e afastamento entre os nacionalistas bosníacos muçulmanos e croatas católicos. Os partidos nacionalistas continuam a dirigir as respetivas entidades, num cenário de profundas divisões étnicas.
No passado dia 21 de março, o Conselho Europeu aprovou a abertura de negociações formais de adesão à UE com a Bósnia-Herzegovina.
O alto representante internacional para a Bósnia-Herzegovina, o alemão Christian Schmidt, foi designado em julho de 2021 pelo Conselho de Segurança da ONU, mas com os votos contra da Rússia e da China, sendo por esse motivo considerado ilegítimo pelas autoridades sérvias bósnias.
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