Numa mensagem dirigida à Nação, William Ruto condenou o que considerou ser "um ataque" à democracia, ao Estado de direito e às instituições e comprometeu-se a reprimir firmemente "a violência e a anarquia".
Ruto disse ter ordenado "a todos os órgãos de segurança nacional que implementem medidas para frustrar qualquer tentativa de criminosos perigosos de minar a segurança e a estabilidade do país".
Afirmando ser sua "prioridade máxima" garantir a segurança de pessoas e bens, o chefe de Estado assegurou que "os protestos pacíficos da Geração Z [promotores do protesto] foram infiltrados por elementos criminosos".
Ruto reafirmou a intenção de "conversar" com os jovens que estiveram na origem dos protestos, frisando, contudo, que não tolerará qualquer "ameaça" que implique "um perigo existencial" para o Quénia.
O Presidente dirigiu-se à nação depois do Governo ordenar o apoio do Exército aos esforços policiais para conter a violência.
Os soldados foram destacados para apoiar a polícia "em resposta à emergência de segurança causada pelas manifestações violentas em curso" em todo o país, marcadas por "destruição e intrusões em infraestruturas cruciais", anunciou o ministro da Defesa, Aden Bare, num comunicado emitido ao início da noite.
As agências internacionais dão conta de vários mortos, com a espanhola Efe a citar uma fonte do Grupo de Trabalho para a Reforma da Polícia do Quénia (PRWG-Kenya), que inclui organizações como a Amnistia Internacional (AI), a referir pelo menos 17 mortos, 14 deles em Nairobi, onde a polícia abriu fogo para impedir os manifestantes de entrar no parlamento, que teve um dos seus edifícios incendiado.
As ONG também documentaram 86 feridos e 52 detenções, incluindo pelo menos 43 na capital, acrescentou a fonte, que quis manter o anonimato.
Os manifestantes, na sua maioria jovens que se organizaram a partir das redes sociais, queimaram escritórios do partido no poder em Embu, no centro do Quénia, informou o jornal Nation.
A polícia utilizou gás lacrimogéneo, canhões de água, balas de plástico e munições reais para dispersar os manifestantes, segundo as ONG.
Uma das organizadoras do movimento, a jornalista e ativista Hanifa Adan, apelou aos manifestantes para que regressassem a casa durante a tarde, para que fiquem em segurança.
A principal coligação da oposição, Azimio, acusou o Governo de "desencadear a sua força bruta contra as crianças" do Quénia.
"O Quénia não pode dar-se ao luxo de matar as suas crianças só porque elas estão a pedir comida, um emprego e um ouvido atento. A polícia deve, portanto, parar imediatamente de disparar contra crianças inocentes, pacíficas e desarmadas", sublinhou a Azimio num comunicado.
Um dos meios de comunicação social, a emissora KTN, emitiu um comunicado dizendo que recebeu "ameaças das autoridades" para encerrar, à medida que a cobertura dos protestos prosseguia.
Treze países ocidentais - Canadá, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Países Baixos, Estónia, Noruega, Suécia, Roménia, Reino Unido, Bélgica e Estados Unidos - afirmaram, numa declaração conjunta, estar "chocados" com as cenas no exterior do parlamento queniano e manifestaram preocupação com a violência e os raptos de manifestantes.
Os jovens protestam contra o que se prevê ser a introdução de novos impostos, incluindo um IVA de 16% sobre o pão e um imposto anual de 2,5% sobre os veículos privados.
O Governo anunciou, em 18 de junho, que retirava a maior parte das medidas, mas os manifestantes prosseguiram o seu protesto, exigindo a retirada da totalidade do texto.
Para os manifestantes, esta é uma manobra do Governo, que tenciona compensar a retirada de certas medidas fiscais com outras, nomeadamente um aumento de 50% do imposto sobre os combustíveis.
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