Águas superficiais abaixo da média em 2023 no Brasil
As águas superficiais cobriram 18,3 milhões de hectares ou 2% do território do Brasil, em 2023, o dobro da área de Portugal, mesmo assim registando uma queda de 1,5% face à média histórica do país, segundo o MapBiomas.
© Lusa
Mundo Brasil
Informações obtidas e analisadas pela organização no relatório MapBiomas Água, com dados recolhidos entre 1985 e 2023, indicam que houve uma redução da água superficial em todos os meses do ano passado no Brasil, incluindo na estação chuvosa.
A última vez que foi registada retração da superfície hídrica no Brasil foi em 2021, quando houve uma redução de 7%.
Os biomas brasileiros estão a sofrer com a perda da superfície de água desde 2000, com a década de 2010 a revelar-se como a mais crítica.
O levantamento destacou que corpos hídricos naturais (rios, riachos, lagos, pântanos) correspondiam a 77% das águas superficiais no país sul-americano em 2023. Os outros 23% são antrópicos, ou seja, água armazenada em reservatórios, hidroelétricas, aquicultura, mineração e outros locais, que totalizam 4,1 milhões de hectares.
Desse total, os grandes reservatórios, que são monitorados pela Agência Nacional de Águas, órgão regulador do Brasil, somam 3,3 milhões de hectares - um crescimento de 26% em 2023 face a 1985.
Nos corpos hídricos naturais, a situação é outra, tendo o levantamento do Mapbiomas revelado que houve uma queda de 30,8%, ou 6,3 milhões de hectares, em 2023 face a 1985.
Mais de metade das águas superficiais do Brasil está na Amazónia (62% do total nacional). Em 2023, o bioma apresentou uma superfície de água de quase 12 milhões de hectares, ou 2,8% da superfície, dado que representa uma retração de 3,3 milhões de hectares face à média histórica.
Em 2023, a Amazónia brasileira sofreu uma seca severa de julho a dezembro, abaixo da média histórica do MapBiomas Água, tendo os meses de outubro a dezembro registado as menores superfícies de água da série.
No entanto, os casos mais severos de perda de água no país sul-americano ocorreram nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com perdas de 274 mil hectares (-33%) e 263 mil hectares (-30%), respetivamente.
Esses dois estados brasileiros abrigam o bioma Pantanal - planície localizada ao sul da Amazónia que tem 80% da sua área inundada na estação chuvosa e é considerado um santuário onde vivem animais como a onça-pintada e a arara azul -, que, em 2023, registou grandes incêndios provocados pela falta de chuva e pela ação humana.
"Enquanto o Cerrado e Caatinga [biomas do Brasil] estão experimentando aumento na superfície da água devido à criação de hidroelétricas e reservatórios, outros, como a Amazónia e o Pantanal, enfrentam uma grave redução hídrica, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e económicos.
Essas tendências, agravadas pelas mudanças climáticas, ressaltam a necessidade urgente de estratégias adaptativas de gestão hídrica", destacou Juliano Schirmbeck, coordenador do MapBiomas Água.
O MapBiomas Água observou que o Pantanal foi o bioma que mais secou ao longo da série histórica (entre 1985 e 2023).
A superfície de água anual (pelo menos 6 meses com água) em 2023 foi de 382 mil hectares - 61% abaixo da média histórica. Houve redução da área alagada e do tempo de permanência da água. No ano passado, apenas 2,6% do bioma estava coberto por água e o Pantanal responde por 2% da superfície de água do total do Brasil.
O ano de 2023 foi 50% mais seco que 2018, que registou a última grande cheia no bioma. Em 2018, a água no Pantanal já estava abaixo da média da série histórica, que compara com os dados desde 1985.
"Em 2024, nós não tivemos o pico de cheia. O ano regista um pico de seca, que deve se estender até setembro. O Pantanal em extrema seca já enfrenta incêndios de difícil controlo", concluiu Eduardo Rosa, do MapBiomas.
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