O porta-voz do Quadro Estratégico Permanente (CSP, a autoridade de facto pró-independência no norte do Mali, região conhecida como Azawad), Mohamed Ould Ramadan, assegurou à agência EFE que só entre os dias 15 e 21 deste mês estas forças mataram um total de 30 civis e detiveram outros 40.
A mesma fonte explicou que estes assassínios tiveram lugar nas aldeias de Touzek, Tanaynayt e Tidjoranchitan, na província de Kidal; em Tadjalalt, Tinaghay e Fassanfass, em Gao, e em Djaloubé, situada na província de Timbuktu.
Ould Ramadan deu como exemplo destas violações o assassínio de 10 civis no dia 20 deste mês em Abeibara, situada em Kidal e especificou que algumas dessas pessoas tinham sido detidas pelas forças malianas e pelos mercenários do grupo Wagner, tendo sido posteriormente encontradas mortas.
O coletivo CSP, criado em 2021, reúne os grupos do norte que assinaram o acordo de paz de Argel de 2015, que prevê uma maior autonomia para o norte do Mali após a guerra que eclodiu em 2012 entre as forças do norte do país e o Governo central.
Por seu lado, a associação Kal Akal, ativa na defesa dos direitos humanos no norte do Mali, afirmou num relatório recente que um total de 90 civis foram mortos naquela zona em maio passado em execuções sumárias.
A associação afirmou que esta é a parte visível dos massacres cometidos pelo exército e por Wagner, lamentando não dispor dos instrumentos necessários para efetuar um balanço exaustivo de todas as violações do direito à vida no norte do Mali.
O mais mortífero dos massacres foi perpetrado no dia 19 na aldeia de Amassine, em Kidal, onde as tropas malianas e as milícias russas mataram em execuções sumárias e queimaram 30 civis.
De acordo com o relatório, no dia 25, as mesmas forças mataram oito civis na aldeia de Aghazraghan, na zona de Ménaka, no nordeste do país.
No relatório denuncia-se que as tropas malianas e os mercenários russos não só matam e detêm civis, como também organizam operações alargadas para saquear os seus bens.
Este país da volátil região do Sahel, governado por uma junta militar golpista desde 2020, que se apoiou no grupo Wagner para as suas operações antiterroristas, é palco de ataques contínuos do Estado Islâmico (EI) e da filial local da Al-Qaida, denominada Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GAIM).
Nos últimos meses, as reações imprecisas e indiscriminadas do exército maliano, apoiado por mercenários do grupo russo Wagner, conduziram também a massacres entre as fileiras da população civil, denunciados por instituições como a ONU.
De acordo com o Projeto de Dados sobre Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED), que monitoriza a violência em todo o mundo, entre maio de 2023 e maio de 2024, 4.394 pessoas foram mortas no Mali em eventos violentos por grupos não estatais e 2.277 por forças estatais.
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