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Coletes Amarelos? Um dos rostos confessa "fracasso" do movimento

Jérôme Rodrigues, um dos rostos do movimento dos Coletes Amarelos, reconhece que o movimento fracassou e não conseguiu atingir os seus objetivos, manifestando tristeza com o estado a que a França chegou, na véspera da primeira volta das legislativas.

Coletes Amarelos? Um dos rostos confessa "fracasso" do movimento
Notícias ao Minuto

13:00 - 29/06/24 por Lusa

Mundo Coletes amarelos

"Um fracasso é um fracasso e nós não conseguimos atingir os nossos objetivos a não ser talvez um, que merece respeito: nós fomos aquela pequena pedra no sapato de Emmanuel Macron que o impediu de 'sprintar' e de implementar tudo o que queria", afirma Jérôme Rodrigues em entrevista à agência Lusa.

Fundados em outubro de 2018, inicialmente em protesto contra o anúncio do aumento dos impostos sobre os combustíveis - mas que depois se alargou a mais reivindicações -, os Coletes Amarelos chegaram a juntar, no seu momento áureo, cerca de 244 mil pessoas em várias cidades e rotundas de França.

Passados cinco anos, Jérôme Rodrigues - que ficou cego de um olho numa manifestação em janeiro de 2019, tornando-o num dos principais símbolos do movimento - reconhece que o movimento perdeu capacidade de mobilização: as manifestações dos Coletes Amarelos, organizadas todos sábados em Paris, juntam hoje "mais ou menos 200 pessoas".

"Eu diria que, hoje, o movimento dos Coletes Amarelos é mais um estado de espírito que as pessoas levam no coração, com a esperança de alguma mudança", diz Jérôme Rodrigues.

Para o lusodescendente - filho de um português que imigrou para França nos anos 70 - as razões para o fracasso do movimento devem-se, em parte, à "grande diabolização e repressão" de que os Coletes Amarelos foram alvo, "com prisões, ferimentos e mutilações que levaram a que muitas pessoas tenham decidido afastar-se".

"Depois, houve muitas pessoas que passaram vários meses nas rotundas sem se ocuparem da sua própria família e dos seus próximos. Também havia uma altura em que as pessoas precisavam de retomar uma vida mais ou menos normal. Ainda para mais, como não éramos militantes históricos, foi muito difícil ir aguentando no terreno", diz.

Figura de um movimento que reivindicava uma democracia mais direta - que, entre outros, defendia o projeto de criação de um referendo de iniciativa cidadã, que obrigaria a recolher mais de 700 assinaturas para ser submetido ao voto -, Jérôme Rodrigues assume hoje, na véspera da primeira volta das legislativas, tristeza com o estado a que a França chegou.

"Tenho muita pena, nunca pensei que chegássemos a este estado. E, sobretudo, tenho alguma raiva contra a esquerda porque acho que não foram muito ativos e deixaram muita coisa acontecer. Deviam ter sido muito mais duros no combate ao que estamos a ver hoje: o crescimento da extrema-direita e a presença do 'macronismo'", diz.

Para Jérôme Rodrigues, o movimento dos Coletes Amarelos foi a "única oposição, cidadã, que impediu, durante um período de tempo muito concreto, que o Macron implementasse o seu programa, como acabou por implementar a partir do momento em que o movimento se apagou".

"A reforma das pensões, todas as leis liberticidas que acabou por implementar, inicialmente não o conseguiu fazer devido aos Coletes Amarelos e isso, pelo menos, é uma medalha que, de alguma maneira, podemos trazer ao peito", refere.

Outro dos pontos positivos que destaca são os milhares de "cadernos de reivindicações" elaborados pelos cidadãos franceses que, a pedido do movimento dos Coletes Amarelos, escreveram "o que esperavam do poder, as suas reivindicações e as suas necessidades".

"Foi um trabalho enorme que hoje está a ser estudado por académicos, investigadores, grupos de cidadãos e de onde sobressai a própria essência do que querem não só os franceses, mas mesmo a generalidade dos cidadãos do mundo", diz.

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