Jérôme Rodrigues diz que prioridade é "que o Macron se vá embora"
Jérôme Rodrigues, um dos rosto dos Coletes Amarelos, defende que a prioridade, nestas eleições legislativas francesas, é "que o Macron se vá embora", recusando apelar ao voto contra a extrema-direita, apesar de criticar o seu projeto.
© Samuel Boivin/NurPhoto via Getty Images
Mundo Coletes amarelos
Em entrevista à agência Lusa na véspera da primeira volta das eleições legislativas francesas, Jérôme Rodrigues reconhece que estava à espera que Emmanuel Macron dissolvesse a Assembleia Nacional francesa, mas não pensava que iria ser tão cedo.
"Estou satisfeito. Porquê? Porque o nosso primeiro objetivo, enquanto Coletes Amarelos, era que o Macron se fosse embora. Há cinco anos, tínhamos avisado que ele era um perigo para a França. Portanto, hoje, enquanto Coletes Amarelos, temos finalmente a possibilidade de que ele se vá embora", diz.
Apesar de ser muito crítico em relação à União Nacional (Rassemblement National (RN), em francês) - salientando que um Governo de extrema-direita "não seria bom para a França" e que o seu crescimento mostra que as pessoas não leram "os seus livros de história" -, Jérôme Rodrigues recusa apelar ao voto na esquerda.
"Eu não digo às pessoas o que têm de fazer, também não gosto que me digam. A única coisa que peço, porque este domingo vai ser o primeiro 'round', é que mandem o Macron para casa, e depois faremos o que temos a fazer", afirma.
"Se olharmos para os factos, e de maneira concreta, quem nos fez mal tanto através das suas leis, como fisicamente, foi o Macron. Portanto, é preciso que ele parta", acrescenta Jérôme, que ficou cego de um olho numa manifestação dos Coletes Amarelos em janeiro de 2019, após a explosão de uma granada lançada pela polícia.
Figura de um movimento que sempre reivindicou a sua vertente apartidária - segundo diz, encontrou nos Coletes Amarelos pessoas que tanto votavam na extrema-direita como na esquerda -, Jérôme Rodrigues avisa, contudo, que "Bardella e Macron são exatamente a mesma coisa".
"Com qualquer um, a França vai perder-se. Têm o mesmo programa", diz, apesar de também ser muito crítico dos partidos à esquerda, a quem atribui "20% de responsabilidades" pelo crescimento da extrema-direita, considerando que os restantes 80% pertencem a Macron.
"A esquerda tem, no seu ADN, o combate à extrema-direita. Quando eu era miúdo, a partir do momento em que a extrema-direita ia para a rua, eles reagiam. Hoje, o que é que se vê? Nada. Pararam de reagir", critica, deixando também um aviso aos partidos de esquerda que estejam a pensar, na segunda volta, apelar ao voto da coligação de Macron para impedir o acesso da extrema-direita ao poder.
"Vão pedir para votar naqueles que nos rebentaram os olhos e que vos chamam de antissemitas todos os dias?", pergunta, defendendo que "não deve haver nenhuma frente republicana na segunda volta".
"A minha opinião é que a esquerda deve afastar o Macron e, depois, voltar ao seu verdadeiro papel de combater a extrema-direita", defende, salientando que, independentemente do resultado das legislativas, os franceses não vão ficar "com os quatro ases na mão de entre o baralho de cartas".
Jérôme assume que às vezes pensa que talvez seja necessário a extrema-direita chegar ao poder para as pessoas perceberem que não é aí que está a solução, apesar de salientar que, outras vezes, também pensa que ninguém deve passar por isso.
Manifestando-se triste com o estado a que a França chegou, Jérôme Rodrigues diz que está "como milhões de franceses que já não sabem nada".
"Só sei uma coisa: deixei de acreditar na esperança. Já só acredito na energia do desespero porque, quando não tens nada, podes ganhar guerras. Mas será que vai ser preciso chegar a esse ponto?", pergunta.
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