Poucos minutos após o tiroteio, a aparente tentativa de assassinato do ex-Presidente Donald Trump gerou uma onda de comentários nas redes sociais - uns bizarros e outros contraditórios - refletindo "as incertezas assustadoras do momento" e o clima político febril dos Estados Unidos, descreve a Associated Press (AP) com base em várias fontes.
A especulação e conjetura que os norte-americanos encontraram na Internet para obter notícias sobre o tiroteio é o mais recente sinal de como os meios de comunicação social emergiram como uma fonte dominante de informação - e de desinformação - para muitos, e um fator que contribui para a desconfiança e a turbulência que atualmente impulsionam a política norte-americana.
As menções a Trump nas redes sociais aumentaram 17 vezes mais do que a média diária nas horas que se seguiram ao tiroteio, segundo a PeakMetrics, uma empresa cibernética que acompanha as narrativas 'online'.
Muitas eram expressões de simpatia por Trump ou apelos à união, mas muitas outras faziam afirmações infundadas e fantasiosas, segundo especialistas em comunicação social.
"Vimos coisas como 'os chineses estavam por trás disto', a 'Antifa [movimento de grupos de esquerda] estava por trás disto' ou 'a administração Biden fez isso'", disse o analista Paul Bartel à AP.
"Toda a gente está apenas a especular. Ninguém sabe realmente o que se está a passar. Vão para a Internet para tentar perceber", acrescentou.
Dos comentários que surgiram na Internet, os analistas reuniram várias teorias.
Algumas vozes da esquerda rapidamente disseram que o tiroteio era uma falsa bandeira inventada por Trump, enquanto alguns apoiantes de Trump sugeriram que os serviços secretos não protegeram intencionalmente Trump por ordem da Casa Branca.
Hoje, os serviços secretos rejeitaram as afirmações que circulavam nas redes sociais, de que a campanha de Trump teria pedido mais segurança antes do comício de sábado e que lhe tinham dito que não.
"Isto é absolutamente falso", escreveu o porta-voz da agência, Anthony Guglielmi, na rede social X, acrescentando que "foram adicionados recursos, tecnologia e capacidades de proteção como parte do aumento do ritmo de viagens da campanha".
Os vídeos do tiroteio foram rapidamente dissecados por apoiantes e detratores de Trump, que procuraram provas que sustentassem as suas convicções.
Alguns mostravam agentes dos serviços secretos a afastar membros da audiência de Trump antes do tiroteio e foram apresentados como prova de que se tratava de uma ação interna.
As imagens do punho desafiadoramente levantado de Trump foram usadas para fazer a afirmação oposta, que todo o evento foi encenado pelo ex-presidente.
Uma análise da empresa tecnológica israelita Cyabra concluiu que 45% das contas que utilizaram hashtags como #fakeassassination e #stagedshooting não eram autênticas.
Rapidamente surgiram na Internet teorias da conspiração que identificavam erradamente o suspeito do tiroteio, culpavam outras pessoas sem provas e defendiam discursos de ódio, incluindo antissemitismo.
Após o tiroteio, alguns republicanos culparam Biden pelo tiroteio, argumentando que as críticas constantes a Trump como uma ameaça à democracia criaram um ambiente tóxico.
Apontaram, em particular, um comentário que Biden fez aos doadores em 8 de julho, dizendo: "É hora de colocar Trump no alvo".
As próprias palavras incendiárias de Trump foram criticadas no passado por encorajar a violência. As suas declarações sobre as eleições de 2020 e o apelo aos apoiantes para "lutarem como o inferno" que precederam o ataque ao Capitólio.
As sondagens revelam que os norte-americanos rejeitam, na sua esmagadora maioria, a violência como forma de resolver diferenças políticas, mas a retórica exacerbada dos candidatos e dos meios de comunicação social pode motivar uma pequena minoria de pessoas a agir, disse à AP Sean Westwood, cientista político que dirige o Laboratório de Investigação sobre Polarização no Dartmouth College.
Westwood disse que teme que o tiroteio de sábado possa levar outros a considerar a violência como uma tática.
"Há um risco real de que isto se transforme numa espiral", afirmou, acrescentando que, "mesmo que alguém não apoie pessoalmente a violência, se pensar que o outro lado o faz e testemunhar uma tentativa de assassínio político, há um risco real de que isso possa levar a uma escalada".
Das pessoas morreram no atentado, incluindo o alegado atirador, que foi abatido pelos serviços de segurança, e outras duas ficaram feridas, segundo o FBI, que identificou o atirador como Thomas Mathiew Crooks, de 20 anos.
Leia Também: "Deixem-me calçar". A conversa entre Trump e agentes durante o ataque