Polícia do Quénia proíbe protestos na capital por tempo indeterminado
A polícia do Quénia proibiu hoje os protestos na capital do país, Nairobi, por tempo indeterminado, invocando a falta de lideranças que garantam manifestações pacíficas.
© Gerald Anderson/Anadolu via Getty Images
Mundo Nairobi
A proibição foi anunciada horas antes de começar mais um protesto planeado para hoje, em que os manifestantes deveriam ir em marcha até ao edifício da Presidência da República para pedir a demissão do Presidente por má governação.
O inspetor-geral da polícia em exercício, Douglas Kanja, afirmou num comunicado que a falta de liderança "tornou difícil a aplicação de protocolos de segurança".
Hoje ainda não foram vistos manifestantes nas ruas, mas as principais artérias da capital do Quénia de acesso à Presidência continuavam barricadas pela polícia, refere a agência de notícias Associated Press.
O Quénia assistiu a um mês de protestos que começaram com apelos aos legisladores para que votassem contra um controverso projeto de lei das finanças que propunha o aumento dos impostos, num contexto de crise de aumento do custo de vida e da dívida pública.
Pelo menos 50 pessoas morreram desde o início dos protestos, em 18 de junho, de acordo com a Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Quénia. Os protestos já provocaram também várias perdas nas empresas com saques e incêndios.
O Presidente William Ruto afirmou que não assinaria a lei das finanças aprovada pelo Parlamento em 25 de junho, no dia em que os manifestantes invadiram e queimaram parte do edifício, levando os legisladores a fugir. Na semana passada, o Presidente demitiu quase todo o seu gabinete e o Procurador-Geral, como exigido pelos manifestantes, que acusaram os ministros de incompetência, corrupção e ostentação e opulência.
A polícia tem sido acusada de brutalidade contra os manifestantes. Na última sexta-feira, Japhet Koome, antigo inspetor-geral da polícia, demitiu-se após os apelos para que assumisse a responsabilidade pelos disparos contra os manifestantes.
Na última quarta-feira, a Autoridade Independente de Supervisão do Policiamento disse que tinha enviado quatro dos dez casos de uso de violência policial ao diretor do Ministério Público com recomendações.
A autoridade registou os depoimentos das testemunhas e ordenou que vários agentes da polícia comparecessem para prestar depoimento.
Um apelo nas redes sociais incitava as pessoas a manifestarem-se hoje no Parque Uhuru e depois a ocuparem a State House, a sede da presidência queniana em Nairobi, mas os ativistas rejeitaram o segundo apelo.
"Protestar é protegido pela Constituição, mas juntar-se para marchar até à State House é uma armadilha mortal", avisou o conhecido ativista Boniface Mwangi na rede social Instagram, atribuindo o apelo aos serviços secretos quenianos, segundo a EFE.
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