Brasil ainda precisa "muito de falar" sobre violência de género e racismo
A cantora e ministra brasileira da Cultura, Margareth Menezes, acredita que há muitas pessoas envolvidas na defesa contra a violência de género e o racismo, mas reconhece que o Brasil ainda precisa "muito de falar sobre" estes temas.
© Lusa
Mundo Brasil
"Hoje as pessoas estão falando mais, tem mais pessoas se envolvendo, buscando defender e lutar por uma forma mais justa de viver e acho que isso é importante", disse à agência Lusa horas antes de se estrear no palco principal do Festival Músicas do Mundo que inicia hoje a etapa de Sines, no distrito de Setúbal.
Numa conversa que concedeu à Lusa para falar da sua carreira e da digressão que iniciou recentemente pela Europa, depois de uma pausa para abraçar a pasta do ministério da Cultura de Lula da Silva, a artista considerou que estas causas encaixam "no tema da relação da natureza e da relação entre as pessoas".
"Não é um tema só das pessoas negras, é um tema de todas as pessoas que querem e que entendem que todos têm a oportunidade e respeito e que precisam disso para viver melhor e, no nosso país, Brasil, precisamos muito falar ainda sobre isso", defendeu.
Ainda assim, a cantora de sucessos como "Faraó", "Elegibô", produzido por David Byrne, ou "Raça Negra", reconheceu que o país tem "avançado" porque "falando mais, a gente pode consciencializar mais pessoas".
"É uma luta, porque esses conflitos humanos não começaram agora, essa luta de poder que, na verdade, é o lugar do poder, de quem pode e de quem não pode. Mas quem somos nós para dizer quem pode e quem não pode diante do outro? Esse nível de consciência humana, do que estamos jogando fora, o que estamos ganhando e perdendo, com guerras, destruindo a natureza", considerou.
No seu entender, o Mundo "tem de passar por uma catarse" e "quanto mais pessoas defenderem a oportunidade, a possibilidade de convivência, porque é possível conviver com respeito, com dignidade, então quem ganha é o próprio ser humano".
Apesar de sempre abraçar estas causas, a cantora, que decidiu tirar umas miniférias para regressar aos grandes palcos, confessou que na sua "música solar" nunca teve "muitos conflitos" e que enquanto artista sempre defendeu "a Paz".
"Tem gente que gosta e tem gente que não gosta, mas acho que o artista é isso, ele representa a sua contemporaneidade e aquilo de onde ele vem", sublinhou a artista baiana que reflete o seu "ambiente" e a sua "maneira de pensar" através da música.
Sobre o trabalho das artistas brasileiras, Margareth Menezes não hesita em dizer que as mulheres "precisam de estar cada vez mais em lugares de poder e em lugares de comando", mas que, para tal, é preciso "abrir lugares de poder para as mulheres colaborarem nos conflitos".
"Não há como hoje a gente não colocar a presença da mulher como uma presença importante para harmonizar mais, tanto na política, como nos lugares de comando. Acho que a própria mulher precisa também de se fortalecer nesse lugar, fortalecer isso", sublinhou.
E deu o exemplo das eleições presidenciais nos Estados Unidos da América com "duas mulheres negras", referindo-se a Kamala Harris, candidata oficial do Partido Democrata, e Michelle Obama, que foi apontada como nome capaz de derrotar o republicano Donald Trump, em sondagens publicadas nas últimas semanas, e sobre a qual emergiriam alguns cenários de uma eventual nomeação à vice-presidência.
Questionada pela Lusa sobre a mensagem que a cantora irá transmitir à ministra da Cultura do Brasil, no final da digressão pela Europa, Margareth Menezes, escolheu a palavra responsabilidade.
"Tenho essa coisa chamada responsabilidade comigo principalmente e com aquilo que aceitei fazer, e então me vejo mais numa missão quando estou nesse tipo de processo", vincou.
O concerto da brasileira Margareth Menezes está agendado para as 22:15 de hoje no palco do Castelo de Sines.
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