"A situação obviamente é preocupante para a comunidade portuguesa", admitiu Rangel, à margem da inauguração da exposição 'A língua que se escreve sobre o mar -- Camões 500 anos', na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, quando questionado sobre as declarações do chefe de Estado venezuelano.
Na semana passada, Nicolás Maduro radicalizou o seu discurso político e afirmou que, se não for reeleito nas presidenciais de domingo, o país poderá deparar-se com um banho de sangue.
Na terça-feira, Maduro decidiu contextualizar estas declarações, afirmando que foram uma "reflexão".
"Não disse mentiras, apenas fiz uma reflexão, quem se assustou que tome um chá de camomila porque o povo da Venezuela está curado do seu medo e sabe o que estou a dizer, e na Venezuela triunfará a paz", afirmou.
O Presidente venezuelano respondia às declarações do seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sem o mencionar diretamente, que disse ter ficado assustado quando Maduro afirmou que se perder as eleições de domingo haverá "um banho de sangue", numa tentativa, segundo a oposição, de provocar a abstenção entre os que defendem a sua destituição do poder.
O chefe da diplomacia portuguesa, que chegou hoje ao Rio de Janeiro para participar numa reunião do G20 (grupo que junta as 20 maiores economias do mundo) focada na discussão de uma aliança global contra a fome e a pobreza, apontou a "grande intensidade" da campanha eleitoral na Venezuela, ressalvando, porém, que "a verdade é que tudo aponta para que exista uma pluralidade de candidatos com possibilidade de ganhar as eleições".
"Isso aponta para que possa vir a ser um processo com transparência" frisou o ministro, afirmando, no entanto, não querer pronunciar-se sobre os assuntos internos de outros Estados, "em particular onde há uma comunidade portuguesa muito relevante".
Os responsáveis portugueses estarão, segundo garantiu, "muito atentos ao evoluir da situação, sempre sintonizados com a comunidade portuguesa, mas respeitando sempre aquilo que são as prerrogativas soberanas do Estado venezuelano".
Apesar destas prerrogativas, Paulo Rangel frisou que a defesa dos interesses portugueses está "em primeira linha" e que as autoridades portuguesas serão "incansáveis na defesa dos interesses da comunidade portuguesa e da comunidade lusodescendente que vive na Venezuela".
Rangel sublinhou, no entanto, que Portugal julga que os interesses portugueses "não serão postos em causa com este processo eleitoral, qualquer que seja o resultado".
Mais de 21,6 milhões de venezuelanos são chamados a votar nas presidenciais venezuelanas de domingo.
Nestas eleições, Maduro enfrenta nas urnas Edmundo Gonzalez Urrutia, o candidato da oposição que a maioria das sondagens coloca na liderança.
Durante a campanha, que termina oficialmente na quinta-feira, cerca de uma centena de opositores foram presos, segundo organizações de direitos humanos.
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