"A Terra está a tornar-se mais quente e mais perigosa para todos, em todo o lado (...) O calor extremo é a nova anormalidade", declarou Guterres à imprensa, ligando este evento meteorológico extremo à ação humana e ao consumo de combustíveis fósseis.
O dia de domingo, 21 de julho, foi o mais quente no mundo desde que os registos começaram em 1940, com uma temperatura média global à superfície da Terra de 17,09 graus Celsius, adiantou na terça-feira o programa europeu Copernicus.
O registo excede ligeiramente (0,01°C) o máximo anterior, datado de 06 de julho de 2023.
O calor extremo já mata cerca de meio milhão de pessoas por ano, 30 vezes mais do que os ciclones, e a Organização Meteorológica Mundial alertou para um rápido aumento das ondas de calor "em escala, intensidade, frequência e duração", destacou o secretário-geral das Nações Unidas.
"Mil milhões de pessoas enfrentam uma epidemia de calor extremo, 'assando' sob ondas de calor cada vez mais mortíferas, com temperaturas superiores a 50°C", alertou Guterres, deixando um "apelo para a ação", assente na proteção dos mais vulneráveis e dos trabalhadores, utilização concertada dos dados científicos e combate às alterações climáticas.
Na primeira de quatro medidas propostas, o secretário-geral da ONU elencou o cuidado dos mais vulneráveis, indicando os pobres urbanos, os deficientes, os idosos, as crianças, os doentes e os deslocados.
Guterres argumentou que o calor extremo "amplifica as desigualdades" ao aumentar a insegurança alimentar e empurrar mais pessoas para a pobreza.
Estas pessoas podem ser ajudadas por medidas de "arrefecimento com baixo teor de carbono" alcançáveis com um desenho urbano adaptado ou através da melhoria da eficiência das tecnologias de arrefecimento, bem como de um sistema de alerta precoce mais eficaz e acessível a todos, o que exigirá um maior compromisso financeiro dos mais ricos.
Em segundo lugar, Guterres apontou a melhoria da proteção dos trabalhadores como uma prioridade, uma vez que 70% (2,4 mil milhões) estão expostos ao calor extremo, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho, sobretudo em África (nove em cada dez) e na região da Ásia-Pacífico (três em quatro).
Esta exposição profissional ao calor tem efeitos económicos: a produtividade cai 50% com temperaturas superiores a 34 graus, e o "'stress' climático" custará à economia global 2,4 biliões de dólares (dois biliões de euros) em 2030, contra 280 mil milhões de dólares (257 mil milhões de euros) em meados dos anos 1990, pelo que são necessárias medidas urgentes de proteção baseadas nos direitos humanos.
O terceiro eixo envolve uma melhor utilização dos dados científicos, de forma concertada, que pode proporcionar melhorias nas infraestruturas urbanas, na agricultura, nos reservatórios de água, nos sistemas de saúde e no abastecimento elétrico, e que pode mudar a vida das grandes cidades, onde o aquecimento é intenso.
Por último, Guterres sublinhou que todas estas medidas devem ser incluídas no âmbito da luta contra as alterações climáticas, uma vez que, "para vencer os sintomas, deve-se atacar a doença, e a doença é a loucura de queimar a nossa única casa, é o vício em fósseis combustíveis e inação climática".
Neste sentido, apelou a todos os países para que elaborem um plano de ação climática para o próximo ano, e pediu que o setor privado, as administrações locais e regionais também comecem a trabalhar, mantendo sempre claros dois objetivos: acabar com novos projetos de carbono e "reduzir o consumo global de combustíveis fósseis em 30% até 2030".
[Notícia atualizada às 18h43]
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