A campanha militar está a provocar "o maior impacto de mortes e destruição de que eu me recorde", disse Guterres, que aludiu ainda à "natureza caótica" desta campanha que se reflete nas ordens emitidas pelo Exército israelita para que os palestinianos abandonem as suas casas e se desloquem para o centro do enclave, de seguida do centro para o sul, e de novo de sul para norte.
"Em qualquer momento dizem às pessoas que se desloquem para outro lugar, e as pessoas deslocam-se em busca de uma segurança que já não existe em qualquer lugar", lamentou, numa referência aos 1,9 milhões de palestinianos retirados dos seus lugares e deslocados, em muitos casos por várias ocasiões.
A esta situação associam-se os entravas à ajuda humanitária impostos por Israel, que cria "permanentes obstáculos à negociação e coloca uma dificuldade a seguir a outra" para a sua entrada e distribuição, alegando motivos de segurança ou de suposto uso indevido dessas ajudas.
Guterres acusou ainda o Exército israelita de disparar em três ocasiões distintas, nos últimos cinco dias, em direção a veículos que transportavam ajuda humanitária.
Uma situação que motivou "total insegurança e total anarquia", agravada pelo facto de a "comunidade internacional ter respondido parcialmente" ao apelo humanitário para Gaza e ter apenas garantido 36% do financiamento requerido, acrescentou.
O secretário-geral da ONU concluiu ao sublinhar "o modo como [Israel] conduz as suas operações militares e as circunstâncias dramáticas de distribuição de ajuda humanitária e que motivaram uma situação de terror humano".
Devido às suas críticas abertas a Israel, Guterres está a ser boicotado pelo Governo de Benjamin Netanyahu praticamente desde o início do atual conflito, com o primeiro-ministro israelita a não atender nenhuma das suas chamadas nem ter solicitado um encontro durante a sua atual visita aos Estados Unidos, reconheceu Guterres.
Ao ser questionado sobre as palavras de Netanyahu na quarta-feira no Congresso sobre o futuro da Faixa de Gaza -- desmilitarizada, desrradicalizada e com controlo israelita sobre a sua segurança -- Guterres apenas referiu que "nada do que se disse merece o meu comentário", voltando a defender a solução de dois Estados como a única possível.
A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 39 mil mortos, na maioria civis, e perto de 90 mil feridos, bem como um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
Em maio, a ONU declarou que as mulheres e crianças representam pelo menos 56% das pessoas mortas desde o início do atual conflito, com base em dados do Ministério da Saúde do Hamas.
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