"Creio que o povo moçambicano, com ovos e tomate, que não é arma, vão fazer a guerra e vão vencer", afirmou Manecas Daniel, em declarações à Lusa durante a marcha de repúdio à exclusão decidida pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) que hoje reuniu centenas de pessoas nas ruas de Maputo, enquanto aguarda o resultado do recurso apresentado no Conselho Constitucional (CC) para tentar manter na corrida eleitoral a CAD, que apoia ainda a candidatura do político Venâncio Mondlane a Presidente da República.
Manecas Daniel garantiu que apresentado o assunto ao chefe de Estado, Filipe Nyusi, alertando que não é por "ter levado a última arma da Renamo", aludindo ao processo de desarmamento do maior partido da oposição concluído em 2023, que pode "pensar que os moçambicanos não têm arma".
"Que pode abusar, que pode pisá-los. Eu acredito que não é bem assim, a população pode, a qualquer momento, com ovos e tomate, fazer uma frente, fazer uma guerra e vencer a guerra", disse ainda.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) excluiu a CAD das eleições gerais de 09 de outubro por não reunir os requisitos legais, anunciou em 18 de julho aquele órgão eleitoral, numa deliberação adotada por consenso já na fase de verificação das candidaturas recebidas.
Argumentos que não convencem a CAD, constituída em 2018 e que segundo Manecas Daniel já concorreu, nos mesmos moldes, a outros três atos eleitorais.
"Este é o quarto [eleições gerais de 09 de outubro]. E da mesma forma nunca nos exigiram o que nos exigem hoje. E mesmo os elementos que nos dizem, averbamento [da coligação] e outros até cumprimos e mandamos para a CNE", acrescentou.
Para Manecas Daniel, trata-se de uma "perseguição política" da CNE, explicada pela associação da CAD a Venâncio Mondlane, ex-deputado e ex-membro da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), partido pelo qual concorreu em outubro à autarquia de Maputo tendo liderado dezenas de protestos de rua, com milhares de apoiantes, contra os resultados oficiais que deram a vitória na capital à Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder desde 1975.
Daí que pergunte quem, afinal, "tem medo" da CAD: "Esse é que é o elemento principal. Uma coisa muito interessante é que nós fizemos a inscrição, sem publicitar a nossa relação com o engenheiro Venâncio Mondlane, mas quando apresentamos a candidatura do engenheiro Venâncio Mondlane [a CAD apoia a sua candidatura a Presidente], no dia 10 de junho, aí o problema começou. Então, o problema não é da CAD, o problema é o facto de estarmos associados ao engenheiro Venâncio Mondlane".
Com a decisão da CNE, Venâncio Mondlane -- que não participou nos protestos de hoje por estar em campanha na Europa - fica impedido de concorrer a mais um mandato na Assembleia da República, mas mantém-se na corrida à Presidência.
A CAD convocou para hoje manifestações de repúdio à exclusão decidida pela CNE em oito províncias do país, incluindo na cidade de Maputo, que decorreu sem incidentes e com proteção policial, enquanto aguarda a decisão do CC ao recurso apresentado esta semana.
Confiante que a CAD vai voltar a entrar na corrida eleitoral, Manecas Daniel aponta os "sinais de mudança em todo o mundo" para acreditar que o mesmo pode acontecer em Moçambique: "Acredito que a maior surpresa vem aí, depois das eleições, um maior número de deputados, um bom assento, para alterar, de facto, governar bem o país e fazer um parlamento à altura, defender os interesses da nação moçambicana".
Munidos com cartazes de contestação à CNE e ao Governo, centenas de pessoas, sobretudo jovens, percorreram hoje a cidade de Maputo, entoando apelos para "salvar Moçambique". Ane Simane, biscateiro de 29 anos, juntou-se à marcha assumindo o apoio a Mondlane: "A situação no país não está boa. Há muita 'ladroagem', muita criminalidade, muitos problemas de sequestros. (...) Queremos uma boa governação".
De apito na boca, também Pedro Armando, segurança de 40 anos, aderiu ao protesto na capital, garantindo que "o povo não aceita" a decisão da CNE, reivindicando a "reposição da verdade": "Os adversários da CAD têm medo porque sabem que já perderam antes ainda de se chegar à mesa".
As eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique incluem presidenciais -- às quais já não concorre o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, legislativas e para governadores e assembleias provinciais.
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