"Tenho que esvaziar a frustração que sinto de alguma forma. Este protesto é diferente de outros anteriores, é para mostrar que e o motivo deste protesto ser diferente é para demonstrar que todos estamos em desacordo com a fraude eleitoral", explicou Lisette Fernández à Lusa.
Residente no bairro de Cátia, esta venezuelana explicou que o "caçarolaço" é também uma forma de demonstrar que a população perdeu o medo e quer uma mudança no país. "Tenho amigas que vivem no bairro 23 de Enero, onde pela primeira vez tocaram tachos, sem se cansar, durante uma hora", frisou.
Questionada sobre o que a levava a afirmar que houve uma fraude eleitoral, explicou que o processo eleitoral foi monitorizado através das redes sociais, onde mais de 50% das atas divulgadas dão a vitória do opositor Edmundo González Urrutia.
"Estamos à espera de instruções da [líder da oposição] Maria Corina Machado para saber que ações tomar (...) gostava de dizer às pessoas que mantenham a calma, porque este processo é diferente e todos sabíamos o que iria acontecer com as eleições", frisou.
Além do leste da capital, o "bater de tachos" foi ouvido em bairros populares, tradicionalmente afetos ao regime chavista, como o 23 de Enero, próximo do palácio presidencial de Miraflores, Cátia (oeste) e El Valle (a sul), coincidindo com o momento em que o Procurador-geral Tarek William Saab se dirigia ao país.
Por outro lado, em El Valle, Magali Martínez, também abriu as janelas da sua casa para com a ajuda de uma colher de pau fazer soar a panela em protesto e em sinal de descontentamento.
"É a nossa liberdade, o nosso voto, a nossa esperança que está em risco, e querem minimizar o valor que tem e o que significa para nós. Tocarei caçarolas cada vez que seja necessário, até que haja uma mudança política no país", disse à Lusa.
Explicou que, para as mulheres, a vida nos bairros venezuelanos é cada vez mais complicada, que o salário dos maridos não é suficiente e em muitos casos elas têm filhos solteiras, pelo que fazem de pais e mães ao mesmo tempo.
"Trabalhamos lá fora, nos nossos empregos, e chegamos a casa para continuar a trabalhar, supervisionar a educação dos filhos. Não temos um horário e o cansaço não importa", disse.
Vários portugueses disseram telefonicamente à Agência Lusa que também na localidade de Higuerote, 115 quilómetros a leste de Caracas, também se ouviram toques de tachos pelas 12h30 horas locais (17h30 horas em Lisboa).
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou que o Presidente cessante Nicolás Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo com 51,20% dos votos.
Maduro obteve 5,15 milhões de votos, à frente do candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia, que obteve pouco menos de 4,5 milhões (44,2%), de acordo com os números oficiais anunciados pelo presidente do CNE, Elvis Amoroso.
A oposição venezuelana reivindica a vitória nas eleições presidenciais de domingo, com 70% dos votos para o candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia obteve 70% dos votos, afirmou a líder opositora María Corina Machado, recusando-se a reconhecer os resultados proclamados pelo CNE.
Vários países já felicitaram Maduro pela vitória, como Nicarágua, Cuba, China, a Rússia e o Irão, mas outros demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela além de Portugal, como Espanha e Estados Unidos.
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