SADC discute crescimento económico, mas deve ignorar direitos humanos
A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) reúne-se hoje no Zimbabué para discutir o "crescimento económico sustentado" na sub-região, numa cimeira que deverá ignorar o atropelo dos direitos humanos no país anfitrião.
© AMOS GUMULIRA/AFP via Getty Images
Mundo África Austral
Ainda que fora da agenda da cimeira, subordinadas ao tema "Promover a Inovação para desbloquear oportunidades de crescimento económico sustentado e desenvolvimento rumo a uma SADC industrializada", as discussões deverão incluir questões emergentes no domínio da saúde, como o número crescente de surtos de Monkeypox (Mpox) no subcontinente.
Esta semana, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou os surtos de Mpox em África uma emergência sanitária mundial, destacando a situação na República Democrática do Congo (RDCongo, um dos 16 estados membros da SADC), onde foram registados mais de 90% dos casos.
O vírus está presente na África Central e Ocidental há vários anos, mas este ano foi detetado em mais de uma dúzia de países africanos, incluindo alguns onde nunca tinha sido registado.
A cimeira, a 44.ª, decorre pela primeira vez no Zimbabué desde a criação do bloco regional de 16 países em 1992, do qual fazem parte Angola e Moçambique.
O chefe de Estado zimbabueano, Emmerson Mnangagwa, assumirá, por outro lado, a liderança da SADC -- igualmente uma estreia crucial para a sua administração -, sucedendo ao homólogo angolano, João Lourenço, que estará em Harare este fim de semana.
Várias organizações internacionais, incluindo a ONU, apelaram ao Governo do Zimbabué para que liberte centenas de ativistas e políticos da oposição, detidos ao longo dos meses que antecederam a cimeira.
As autoridades zimbabueanas deslocaram um forte dispositivo militar e policial para as principais artérias da capital do Zimbabué, onde as demonstrações e protestos foram proibidos, culminando uma sequência de iniciativas repressivas, que se prolonga desde junho.
A Amnistia Internacional estima que mais de 160 ativistas e membros dos partidos da oposição - incluindo Jameson Timba, líder da oposição Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC) - se encontram detidos, sob a acusação de tentarem perturbar a cimeira da SADC.
Confrontado pela Lusa com esta situação, um porta-voz do Gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas, Seif Magango, fez saber esta sexta-feira que o gabinete "está preocupado com os relatos de detenções, perseguições e intimidações de defensores dos direitos humanos e ativistas políticos no período que antecedeu a cimeira da SADC".
"Apelamos à libertação imediata de todas as pessoas detidas arbitrariamente, assim como à proteção do espaço cívico", acrescentou o gabinete da ONU.
Num tom semelhante, os Estados Unidos, através da sua embaixada em Harare, sublinharam esta quinta-feira na rede social X "o seu apoio ao objetivo da SADC de alcançar o desenvolvimento económico, a paz e a segurança", recordando que "a intimidação, a tortura e a detenção prolongada de cidadãos zimbabueanos antes de julgamento são contrárias a estes princípios".
Não obstante as críticas internacionais, os analistas duvidam que os líderes regionais utilizem esta cimeira para advertir o Zimbabué sobre o seu historial em matéria de direitos.
"Eles evitam as questões difíceis", resumiu Antony Reeler, um investigador e analista político do Zimbabué, citado pela agência de notícias Associated Press.
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