Patriarcado ortodoxo de Moscovo condena proibição "ilegal" na Ucrânia
O Patriarcado de Moscovo condenou a proibição "ilegal" na Ucrânia, aprovada hoje pelo parlamento em Kyiv, do ramo da Igreja Ortodoxa russa, numa decisão já saudada pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como "uma independência espiritual".
© ADALBERTO ROQUE/AFP via Getty Images
Mundo Ucrânia
Em reação à aprovação dos deputados da Rada (parlamento ucraniano), um porta-voz do Patriarcado russo, Vladimir Legoida, comentou na rede Telegram que se trata de "ato ilegal que constitui uma violação flagrante das noções fundamentais de liberdade de consciência e dos direitos humanos".
O parlamento ucraniano adotou um projeto de lei que prevê a proibição da Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscovo, que é acusada de ser influenciada pelo Kremlin.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, criticou a aprovação dos deputados ucranianos, apontando uma estratégia para "destruir a ortodoxia canónica e verdadeira e trazer para o seu lugar uma substituta, uma falsa Igreja".
Após vários parlamentares ucranianos terem saudado a iniciativa legislativa, Volodymyr Zelensky também já elogiou a decisão dos deputados.
"Uma lei foi aprovada em relação à nossa independência espiritual. Foi sobre isso que conversámos com os membros do Conselho de Igrejas e Organizações Religiosas", observou nas redes sociais o líder ucraniano, revelando que, nos próximos dias, irá também discutir o assunto com representantes do patriarca ecuménico Bartolomeu.
A Igreja visada por esta decisão foi em tempos a mais popular na Ucrânia, um país com uma grande maioria ortodoxa, mas que perdeu muitos seguidores nos últimos anos, à medida que o sentimento nacional ucraniano ganhou popularidade face à Rússia.
Este processo acelerou-se com a criação, em 2018, de uma Igreja Ortodoxa ucraniana independente de Moscovo, e, ainda mais, após o início, em fevereiro de 2022, da invasão russa da Ucrânia, abertamente apoiada pelo Patriarcado de Moscovo.
Segundo o deputado Yaroslav Zhelezniak, a nova lei - que ainda precisa de ser promulgada pelo Presidente Volodymyr Zelensky antes de entrar em vigor - dá nove meses às paróquias da Igreja em causa para "cortar os seus laços com a Igreja Ortodoxa russa".
De acordo com meios de comunicação social ucranianos, a Igreja com ligações à Rússia ainda tem cerca de 9.000 paróquias na Ucrânia, em comparação com 8.000 a 9.000 paróquias da sua rival independente.
A Igreja Ortodoxa alvo desta proibição anunciou em maio de 2022 que estava a cortar todos os laços com o Patriarcado de Moscovo e acusou as autoridades ucranianas de perseguição.
Contudo, o Governo ucraniano acredita que a instituição continua dependente da Rússia e vários dos seus dignitários estão a ser alvo de investigações criminais.
Segundo uma sondagem realizada em 2023 pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kyiv, 66% dos ucranianos eram a favor da proibição da Igreja ligada a Moscovo.
Além disso, 54% dos ucranianos identificaram-se com a Igreja independente e apenas 4% com aquela que responde perante o Patriarcado russo, de acordo com um estudo de opinião realizado pela mesma organização em 2022, em comparação, respetivamente, com 42% e 18% no ano anterior.
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