Em comunicado, Volker Türk manifestou a sua grande preocupação com a acentuada deterioração da situação na Birmânia, em particular no estado de Rakhine, onde "centenas de civis terão sido mortos quando tentavam fugir dos combates".
Os confrontos têm abalado o estado de Rakhine desde que o Exército Arakan (AA), um grupo étnico rebelde armado, atacou as forças de segurança da junta em novembro, pondo fim a um cessar-fogo que tinha sido amplamente respeitado desde o golpe militar de 2021.
De acordo com o alto comissariado das Nações Unidas, nos últimos quatro meses, dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais rohingya, fugiram de uma grande ofensiva do AA para assumir o controlo das cidades de Buthidaung e Maungdaw.
A 05 de agosto, ao longo do rio Naf, na fronteira com o Bangladesh, dezenas de pessoas terão sido mortas, incluindo por 'drones' armados, segundo a ONU, que afirmou não saber qual a parte responsável pelo conflito.
"Milhares de rohingyas foram forçados a fugir a pé, uma vez que o exército de Arakan os tem empurrado repetidamente para locais com poucos refúgios seguros", afirmou Türk.
"Enquanto os pontos de passagem para o Bangladesh permanecem fechados, os membros da comunidade rohingya encontram-se encurralados entre o exército e os seus aliados e o Exército Arakan, sem qualquer meio de alcançar a segurança", salientou.
Türk lamentou os ataques a civis que fogem do estado de Rakhine e "teme uma repetição das atrocidades cometidas contra os rohingya em 2017".
Centenas de milhares de rohingyas fugiram do estado de Rakhine em 2017, perante a perseguição em larga escala do exército birmanês, que está a ser investigado pelas Nações Unidas por genocídio.
"Este mês marca o sétimo aniversário das operações militares que levaram 700.000 pessoas a atravessar a fronteira para o Bangladesh. Apesar de o mundo inteiro ter dito 'nunca mais', estamos mais uma vez a assistir a mortes, destruição e deslocações" no estado de Rakhine, denunciou o alto comissário.
O AA, que afirma lutar pela autonomia do grupo étnico rakhine, anunciou a sua intenção de assumir o controlo de todo o estado. Foi acusado pela diáspora rohingya de expulsar os muçulmanos, saquear e incendiar as suas casas, o que o grupo descreveu como "propaganda".
Entretanto, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) juntou-se às vozes internacionais, alertando para o aumento do número de rohingyas "feridos e doentes" que estão a atravessar para o país vizinho em busca de cuidados médicos, como os prestados por um hospital dos MSF em Cox's Bazar, onde se encontra o grande campo de refugiados desde o êxodo em 2017.
Os MSF detalham que a situação se agravou particularmente desde novembro do ano passado, um mês caracterizado por um recrudescimento das hostilidades ao grau de "violência extrema" através do "uso de armamento pesado, ataques de 'drones' e fogo posto deliberado que arrasaram aldeias inteiras, matando, ferindo e deslocando civis".
A ONG acusa tanto o exército como as milícias de Arakan de "recrutarem civis à força", alimentando assim "as tensões étnicas entre as comunidades".
De acordo com a ONU, cerca de 327.000 pessoas foram deslocadas no estado de Rakhine e na cidade de Paletwa, no estado de Chin, desde o recomeço das hostilidades em novembro de 2023. Isto eleva o número total de pessoas deslocadas em ambas as áreas para mais de 534.000.
[Notícia atualizada às 11h03]
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