Este é o segundo dia consecutivo de protestos no arquipélago do Sudeste Asiático, apesar de o Governo ter teoricamente abandonado, na quinta-feira, o projeto que está no centro das críticas.
O projeto visa alterar uma decisão recente do Tribunal Constitucional (TC) favorável à oposição.
Com altifalantes, faixas e cânticos, centenas de pessoas, entre as quais muitos estudantes, saíram às ruas da capital para exigir a proteção da democracia na Indonésia, um dos últimos recantos da região onde sobrevive a abertura política.
"A democracia morreu hoje", lia-se numa faixa no chão de Jacarta, segundo a agência espanhola EFE.
Num comunicado divulgado hoje, a polícia disse que deteve 301 pessoas em Jacarta na quinta-feira.
Na origem da crise está um confronto entre o executivo liderado pelo Presidente Widodo, conhecido por 'Jokowi', o seu sucessor e vencedor das eleições de fevereiro, Prabowo Subianto, e o TC.
Na terça-feira, o TC aprovou uma medida que reduz o número de apoios necessários para os candidatos às eleições e mantém a idade mínima dos candidatos nos 30 anos.
A decisão permite a participação de mais partidos e beneficia a candidatura de Anies Baswedan ao importante cargo de governador de Jacarta nas eleições regionais e locais de 27 de novembro.
Baswedan perdeu as eleições presidenciais de fevereiro passado para Prabowo Subianto, agora aliado do Presidente, embora tenham sido rivais nas duas eleições que Jokowi venceu em 2014 e 2019.
Apenas 24 horas após a decisão do TC, a coligação maioritária que apoia Widodo e Prabowo apresentou uma proposta legislativa de emergência para alterar a decisão do tribunal.
A iniciativa desencadeou a agitação de organizações não-governamentais (ONG) e ativistas.
Após os protestos de quinta-feira, o parlamento anunciou que o Governo estava a cancelar o plano para rever as mudanças e que iria obedecer à decisão do TC por enquanto.
Mas o recuo não convenceu ou dissipou a desconfiança de parte da população.
O jornal indonésio Kompas publicou hoje o conteúdo de um alegado plano das autoridades para fazer aprovar a alteração.
Destaca-se a candidatura do filho mais novo de 'Jokowi', Kaesang Pangarep, 29 anos, que tem idade inferior à mínima para concorrer às eleições de novembro.
Este não é o primeiro filho de Widodo a dar o salto para a política, alimentando as críticas daqueles que acreditam que o Presidente está a tentar criar uma dinastia política num país com antecedentes.
O filho mais velho, Gibran Rakabuming Raka, foi o companheiro de candidatura de Prabowo e assumirá o cargo de vice-presidente em outubro.
A candidatura de Raka só foi possível depois de terem sido aprovadas exceções de última hora pelo TC, permitindo que os menores de 40 anos se candidatassem se tivessem experiência política, como era o caso.
Com o mandato a terminar em outubro, Jokowi, que gozou de grande popularidade durante os dois mandatos, não pôde candidatar-se à reeleição este ano devido a impedimentos legais.
O Presidente enfrenta agora uma das maiores crises desde que foi aclamado ao chegar ao poder precisamente por não pertencer a uma família política.
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