"Penso que devemos prestar atenção no Reino Unido ao desafio da extrema-direita, do populismo e do nacionalismo", destacou Keir Starmer, em declarações aos jornalistas após uma reunião com o chanceler alemão, Olaf Scholz.

"Há várias razões para a minha preocupação: por um lado, o que está a acontecer no Reino Unido e, por outro lado, o que está a acontecer noutros países europeus, nomeadamente em França e na Alemanha", acrescentou o governante britânico, que chegou ao poder no início de julho, após a vitória do Partido Trabalhista nas eleições legislativas.

As recentes eleições britânicas, que viraram a página de 14 anos de poder conservador, ficaram também marcadas pelo sucesso do Reform UK (partido anti-imigração e eurocético) de Nigel Farage, que obteve 14% dos votos, uma das melhores pontuações para um partido de extrema-direita na história do Reino Unido.

O país enfrentou também motins racistas e islamófobos em dezenas de cidades no final de julho e início de agosto, após a morte de três meninas, uma delas lusodescendente, em Southport, no noroeste de Inglaterra, num ataque com arma branca.

Os rumores sobre o suspeito, falsamente apresentado como um requerente de asilo muçulmano, foram espalhados por relatos da extrema-direita nas redes sociais, causando violentos protestos anti-imigração e contramanifestações nas ruas nos dias seguintes ao ataque. Os manifestantes atacaram hotéis onde os requerentes de asilo estavam alojados.

Na Alemanha, o partido de extrema-direita AfD está bem posicionado para obter ganhos significativos nas duas eleições regionais de domingo, que prometem ser desastrosas para Olaf Scholz.

A França, onde a extrema-direita está em ascensão há anos, está num impasse político desde as eleições legislativas do início de julho, governada por um executivo demissionário há mais de 40 dias, algo nunca visto desde o final da Segunda Guerra em todo o mundo.

Keir Starmer será recebido na quinta-feira pelo Presidente francês Emmanuel Macron.

"Penso que o desafio deve ser assumido pela democracia e pelos progressistas", defendeu o chefe do Governo britânico, acrescentando que quer discutir o assunto com "os partidos progressistas".

Os observadores políticos atribuíram o avanço do Reform UK a um descontentamento com a política, que se aprofundou com a grave crise de poder de compra do Reino Unido, os níveis recorde de imigração regular e irregular e as consequências do Brexit.

"Obter resultados e honestidade são as melhores formas de enfrentar (...) o populismo e o nacionalismo", vincou Keir Starmer.

Scholz e Starmer anunciaram também hoje, em Berlim, que os dois governos vão trabalhar num tratado bilateral para aprofundar as relações entre os dois países.

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