Chihhao Yu é co-diretor do IORG (Taiwan Information Environment Research Centre) e garante que "há manipulação para distorcer a realidade" do território democrático, cuja soberania a China comunista reivindica. A desinformação é fruto de estratégias para os meios digitais que visam reduzir a legitimidade democrática de Taiwan, e simultaneamente a sua resistência à autocracia.
Numa apresentação feita em Taipé, onde a Lusa participou, o especialista categorizou as "ameaças" pelo lado da República Popular da China, começando pelas definidas como "híbridas e persistentes", nas quais se incluem "intimidação militar", "coerção económica" ou "manipulação de informação". As ameaças relacionadas com "incentivo e punição" estão relacionadas com destinatários que vão desde agricultores a artistas.
No seu trabalho, o IORG tem mapeado os atores principais de manipulação de informação e identificou 600 narrativas, sendo quatro as principais estratégias: "desacreditar a democracia taiwanesa", "desacreditar os aliados" da ilha, assim como dividir o público de Taiwan e "glorificar" o vizinho chinês.
China e Taiwan estão separadas desde 1949, altura em que a China se tornou comunista após uma guerra civil.
O 'gigante' asiático tem procurado excluir a ilha dos fóruns internacionais, considerando o território democrático como uma das suas províncias, sem excluir a opção militar para a reunificação dos dois lados do estreito de Taiwan.
Além do seu papel de vigilância, o IORG colabora com escolas e mais recentemente com psicólogos e neurocientistas, para avaliar os efeitos da manipulação
Na lista de narrativas usadas estão, segundo Chihhao Yu, as acusações de fraude e a divulgação de sondagens falsas sobre as eleições do início do ano, que determinaram a permanência dos progressistas DPP no poder, pela mão do agora presidente William Lai, apelidado por Pequim como "perigoso separatista".
Mas também há ataques aos Estados Unidos e ao Japão, neste caso recorrendo a "animosidade histórica", recuperando as "ações antes e durante a 2ª guerra mundial", enquanto se divulgam também acusações contra o DPP e se "instalam vozes pró-República Popular da China apresentadas como as verdadeiras de Taiwan".
O símbolo verde do DPP está também a servir para a narrativa do "terror verde" de forma a remeter para o "terror branco", referente às quatro décadas entre 1949-1992 e durante o qual regime vigente impôs regras, que se fossem violadas originavam detenções que resultavam em torturas e execuções.
Apresentando um 'top 13' de comentadores televisivos, Chihhao Yu coloca a hipótese de estes se afastarem da crítica natural a governos em democracia e eventualmente colaborarem com Pequim, já que a análise de plataformas mostra serem as caras que mais aparecem nas redes sociais chinesas e cujas declarações são "usadas na imprensa estatal chinesa".
O grupo cívico também notou a disseminação quer de "desumanização" de apoiantes do partido no poder, assim como as oito narrativas deste ano sobre "manipulação acerca da escassez de eletricidade", sob o argumento de haver corrupção na empresa que fornece o serviço.
Com estas narrativas é criada uma "imagem interna para mostrar que os taiwaneses devem ser salvos", acrescentou o responsável do grupo que garante serem vetados financiamentos para manter o IORG independente para detetar narrativas e estratégias.
Nos inquéritos que realizaram, os peritos notam cada vez mais correlações entre quem apoia determinado partido, o aliado internacional que prefere e que grupo de media prefere.
"Há uma clara divisão entre dois grupos e menos nuances", concluiu Chihhao Yu.
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