Avignon entre silêncio e sede de justiça por violações a Gisèle Pelicot
Para os habitantes de Avignon (sul da França), os acusados de dezenas de violações a Gisèle Pelicot são também vizinhos e gente do quotidiano, e enquanto uns têm receio e sede de justiça, muitos recusam falar do caso.
© Getty Images/Christophe SIMON / AFP
Mundo Gisèle Pelicot
Em 02 de setembro, teve início em Avignon o julgamento de Dominique Pelicot, um antigo vendedor de imóveis agora reformado, acusado de ter drogado a sua mulher, Gisèle Pelicot, durante quase dez anos e de ter recrutado dezenas de homens na Internet para a violarem enquanto estava inconsciente.
Inece, de 22 anos, e Samira, de 20 anos, declaram-se revoltadas com o caso "chocante", com receio que a justiça francesa não saiba responder. Mas as jovens anseiam por um julgamento com verdadeiras sentenças.
"Provoca medo, porque nós já moramos aqui. O processo está bem aqui. [Os acusados] são pessoas do Hospital da Avignon, são pessoas que podemos encontrar todos os dias, que trabalham nos serviços públicos, polícias, médicos, enfermeiros e nós devemos estar em segurança com eles", afirmou Samira.
Os mais de 50 acusados são "animais" ou "até pior que animais, porque um animal nunca poderia fazer isso", afirmou Inece, acrescentando que "[Dominique Pelicot] é malvado".
"Ele não tem mais coragem de assumir as suas ações porque tem medo das consequências", acrescenta Samira.
Numa segunda-feira de meados de setembro, a cidade pacata da região da Provença, cercada por muralhas de pedra medievais, ainda recebe muitos turistas atraídos pela sua beleza arquitetónica e importância histórica.
Muitos passeiam pela cidade sem qualquer ideia de quem é Gisèle Pelicot e do caso que motivou dezenas de manifestações por toda a França no sábado.
Ao fim da tarde, os habitantes regressam apressadamente a casa a pé ou de bicicleta, dando à cidade movimento. Muitos, interpelados pela agência Lusa, especialmente homens, recusam comentar o julgamento mediático que marca o Tribunal da região há já vários dias.
"Honestamente, [este caso] para os homens não é bom e os acusados devem ser presos por muitos anos" para não se repetir algo assim, afirmou, Abdel, de 69 anos, empregado de café, referindo que a comunidade não fala muito do julgamento.
Para Soulier, de 77 anos, que se mostrou curiosa pelo que se passa no Tribunal, o caso é "terrível" e "bizarro", pela acusação de mais de "cinquenta pessoas".
"É um horror, é um crime e eu acho que não será impune", disse à Lusa Gérard, de 69 anos, que embora se interesse pelo caso nos jornais, considera que a comunidade está "silenciosa".
"Estamos todos chocados com este caso e é verdade que todas as noites vemos as notícias, vivemos aqui, tentamos ir ao tribunal para o acompanhar e esperamos que haja alguém poderoso à altura da tarefa" de julgar os acusados, disse à Lusa Juliette, de 18 anos.
As sessões do julgamento, previstas até dezembro, têm sido adiadas desde quinta-feira. Contudo, terça-feira está prevista nova sessão com a presença do principal arguido, segundo a sua advogada, Béatrice Zavarro.
Relativamente à cobertura mediática, a jovem estudante considera que é bom por permitir "um impacto global" no caso e que possa mudar alguma coisa no futuro, mas considera que "as notícias falsas da Internet têm tido um impacto negativo na comunidade".
Em relação à suspensão do julgamento pela ausência do principal acusado, Dominique Pelicot, motivada pelo seu estado de saúde, os entrevistados consideram que é importante a sua presença em tribunal.
"É muito importante a sua presença, mas ele nunca vem com o pretexto de ter dor na cabeça", de acordo com Inece.
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