Meteorologia

  • 17 NOVEMBER 2024
Tempo
16º
MIN 14º MÁX 22º

EUA. "Independente do resultado, parceiros vão lidar com um país caótico"

Uma vitória de Kamala Harris nas presidenciais de novembro poderá significar para os aliados norte-americanos continuidade das políticas atuais, mas qualquer cenário será "caótico e disfuncional" em Washington, alerta o analista Ian Lesser.

EUA. "Independente do resultado, parceiros vão lidar com um país caótico"
Notícias ao Minuto

12:30 - 24/09/24 por Lusa

Mundo EUA

Em entrevista à Lusa em Lisboa a pouco mais de um mês das eleições norte-americanas, o especialista norte-americano em relações internacionais aponta o risco de violência política caso sejam postos em causa os resultados eleitorais, como aconteceu em 2020 após a derrota de Donald Trump, agora recandidato contra Harris.

 

"Independentemente do resultado, os parceiros internacionais dos Estados Unidos vão lidar com um país caótico e disfuncional", afirma Lesser.  

As implicações disso, adianta, estão nas divisões entre democratas e republicanos no Congresso, que dificultam acordos no Senado, sobre nomeações políticas ou aprovação de leis, acrescentando imprevisibilidade aos compromissos do país no exterior.  

Convidado pela Fundação Luso-Americana para abrir, na segunda-feira, um ciclo de conferências dedicadas às eleições presidenciais dos Estados Unidos, Ian Lesser lidera o escritório do German Marshall Fund (GMF) em Bruxelas.

Coordena ainda o GMF South, um programa que abrange pesquisa e análise de desenvolvimentos no Sul da Europa, Turquia, Mediterrâneo e nas relações Norte-Sul na região do Atlântico, sendo doutorado pela Universidade de Oxford.

Numa época em que "acabou o consenso" em Washington entre os dois partidos sobre política externa, "os parceiros não sabem o que vão ter, mas os americanos também não", afirma.

Para Lesser, perante a polarização da sociedade norte-americana, não há "soluções rápidas" e lidar com as questões de base que a causaram - como falta de investimento na Educação - é "um projeto de longo prazo".

"O ex-presidente Trump agravou [o extremismo político], mas, de certa forma, ambos os partidos se tornaram lugares mais contenciosos agora", disse à Lusa.  

Para Lesser, é particularmente "perturbador" o recurso por Trump "à política identitária num país que é essencialmente, definitivamente multicultural".  

Lesser caracteriza a política de Trump como "altamente personalizada", o que distingue de tendências autocráticas por vezes apontadas ao candidato republicano, mas alerta para a influência do "cenário político muito polarizado e altamente intolerante no país, até violento", que já levou ao assalto ao capitólio de 06 de janeiro de 2021.  

"Eu não acho que os Estados Unidos estejam a caminhar para uma guerra civil, mas acredito que o risco de violência política é algo com o qual precisamos lidar", disse à Lusa.

Por outro lado, e embora uma administração Harris possa ser vista, "especialmente da Europa", como "continuidade" em relação à importância da relação transatlântica, são previsíveis fricções, nomeadamente em questões como o comércio, e diferenças em relação à "experiência de Biden".

"Biden, indiscutivelmente, tem sido o Presidente americano mais voltado para a política externa desde [George H. W.] Bush", afirma.

A justificação, adianta, estará no "à vontade" na área adquirido pelo atual Presidente à frente do Comité de Relações Exteriores do Senado, e conhecimento direto de muitos protagonistas das relações internacionais, especialmente na Europa, que vive na Ucrânia o maior conflito das últimas décadas.

"Pode haver alguma diferença [na política externa entre Biden e Harris], e eu suspeito que ela estaria mais inclinada a concentrar-se nos desafios das políticas públicas internas urgentes, mas essa pode ser a inclinação de qualquer Presidente americano nas condições que enfrentamos", adianta Lesser.  

A principal diferença entre os dois candidatos será a maior "imprevisibilidade" trazida por Trump, mais "mercurial" e trazendo consigo a incógnita de quem seriam os escolhidos para cargos-chave na sua administração.  

Mas em relação ao fundamental entendimento com a China, ambos os candidatos mostram-se belicosos - algo que é até "das poucas em que republicanos e democratas concordam atualmente".

Leia Também: Relação Portugal e EUA é "estrutural" e "não vai mudar" com eleições

Recomendados para si

;
Campo obrigatório