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EUA. "Independente do resultado, parceiros vão lidar com um país caótico"

Uma vitória de Kamala Harris nas presidenciais de novembro poderá significar para os aliados norte-americanos continuidade das políticas atuais, mas qualquer cenário será "caótico e disfuncional" em Washington, alerta o analista Ian Lesser.

EUA. "Independente do resultado, parceiros vão lidar com um país caótico"
Notícias ao Minuto

24/09/24 12:30 ‧ Há 3 Horas por Lusa

Mundo EUA

Em entrevista à Lusa em Lisboa a pouco mais de um mês das eleições norte-americanas, o especialista norte-americano em relações internacionais aponta o risco de violência política caso sejam postos em causa os resultados eleitorais, como aconteceu em 2020 após a derrota de Donald Trump, agora recandidato contra Harris.

 

"Independentemente do resultado, os parceiros internacionais dos Estados Unidos vão lidar com um país caótico e disfuncional", afirma Lesser.  

As implicações disso, adianta, estão nas divisões entre democratas e republicanos no Congresso, que dificultam acordos no Senado, sobre nomeações políticas ou aprovação de leis, acrescentando imprevisibilidade aos compromissos do país no exterior.  

Convidado pela Fundação Luso-Americana para abrir, na segunda-feira, um ciclo de conferências dedicadas às eleições presidenciais dos Estados Unidos, Ian Lesser lidera o escritório do German Marshall Fund (GMF) em Bruxelas.

Coordena ainda o GMF South, um programa que abrange pesquisa e análise de desenvolvimentos no Sul da Europa, Turquia, Mediterrâneo e nas relações Norte-Sul na região do Atlântico, sendo doutorado pela Universidade de Oxford.

Numa época em que "acabou o consenso" em Washington entre os dois partidos sobre política externa, "os parceiros não sabem o que vão ter, mas os americanos também não", afirma.

Para Lesser, perante a polarização da sociedade norte-americana, não há "soluções rápidas" e lidar com as questões de base que a causaram - como falta de investimento na Educação - é "um projeto de longo prazo".

"O ex-presidente Trump agravou [o extremismo político], mas, de certa forma, ambos os partidos se tornaram lugares mais contenciosos agora", disse à Lusa.  

Para Lesser, é particularmente "perturbador" o recurso por Trump "à política identitária num país que é essencialmente, definitivamente multicultural".  

Lesser caracteriza a política de Trump como "altamente personalizada", o que distingue de tendências autocráticas por vezes apontadas ao candidato republicano, mas alerta para a influência do "cenário político muito polarizado e altamente intolerante no país, até violento", que já levou ao assalto ao capitólio de 06 de janeiro de 2021.  

"Eu não acho que os Estados Unidos estejam a caminhar para uma guerra civil, mas acredito que o risco de violência política é algo com o qual precisamos lidar", disse à Lusa.

Por outro lado, e embora uma administração Harris possa ser vista, "especialmente da Europa", como "continuidade" em relação à importância da relação transatlântica, são previsíveis fricções, nomeadamente em questões como o comércio, e diferenças em relação à "experiência de Biden".

"Biden, indiscutivelmente, tem sido o Presidente americano mais voltado para a política externa desde [George H. W.] Bush", afirma.

A justificação, adianta, estará no "à vontade" na área adquirido pelo atual Presidente à frente do Comité de Relações Exteriores do Senado, e conhecimento direto de muitos protagonistas das relações internacionais, especialmente na Europa, que vive na Ucrânia o maior conflito das últimas décadas.

"Pode haver alguma diferença [na política externa entre Biden e Harris], e eu suspeito que ela estaria mais inclinada a concentrar-se nos desafios das políticas públicas internas urgentes, mas essa pode ser a inclinação de qualquer Presidente americano nas condições que enfrentamos", adianta Lesser.  

A principal diferença entre os dois candidatos será a maior "imprevisibilidade" trazida por Trump, mais "mercurial" e trazendo consigo a incógnita de quem seriam os escolhidos para cargos-chave na sua administração.  

Mas em relação ao fundamental entendimento com a China, ambos os candidatos mostram-se belicosos - algo que é até "das poucas em que republicanos e democratas concordam atualmente".

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