Ocorrida na sexta-feira e hoje anunciada pelo Hezbollah, a morte de Hassan Nasrallah, considerado o homem mais poderoso do Líbano, poderá destabilizar o país e constitui uma importante vitória de Israel sobre o Irão e seus aliados na região.
"Sayyed Hassan Nasrallah juntou-se aos seus companheiros mártires", anunciou hoje o Hezbollah - o mais próximo aliado do Irão e inimigo declarado de Israel -, quase 20 horas após o ataque que o vitimou.
Nasrallah foi morto juntamente com outros membros do movimento "num pérfido ataque sionista" à periferia sul de Beirute, bastião do grupo xiita, acrescentou o Hezbollah, sem revelar a identidade das outras vítimas.
"Hassan Nasrallah está morto", tinha antes declarado um porta-voz militar israelita, após o devastador ataque que, segundo o Exército, visou o quartel-general do Hezbollah.
Segundo um comunicado militar israelita, Ali Karaké, apresentado como o comandante da frente sul do Hezbollah, bem como outros altos responsáveis do movimento, foram mortos juntamente com Nasrallah na operação denominada "Nova Ordem".
De acordo com a agência oficial iraniana Irna, também Abbas Nilforushan, vice-chefe dos Guardas da Revolução, o exército ideológico do Irão, foi morto no ataque de sexta-feira.
"Nasrallah foi um dos maiores inimigos de Israel de todos os tempos (...) A sua eliminação torna o mundo mais seguro", declarou o porta-voz do Exército, Daniel Hagari.
A sua "eliminação" é "uma das medidas antiterroristas mais justificadas alguma vez tomadas por Israel", escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israël Katz, na rede social X (antigo Twitter).
Líder do Hezbollah desde 1992, Hassan Nasrallah, de 64 anos, era um homem religioso, centro de um verdadeiro culto da personalidade entre a comunidade xiita do Líbano. Vivia há anos na clandestinidade e raramente aparecia em público.
Logo após a confirmação da sua morte, ouviram-se gritos nos bairros de Beirute que acolhem os deslocados das zonas xiitas.
"Não acreditem neles, estão a mentir, Sayyed está bem!", gritava uma mulher de véu negro que viajava de mota com o marido.
Segundo o Exército de Israel, a "maioria" dos altos dirigentes do Hezbollah foi morta nas operações israelitas dos últimos meses.
O ataque contra Nasrallah "foi muito sofisticado", afirmou James Dorsey, investigador do Instituto do Médio Oriente da Universidade Nacional de Singapura, explicando que tal "demonstra não só a enorme capacidade tecnológica de Israel, mas também até que ponto este se infiltrou no Hezbollah".
O bombardeamento dos subúrbios sul da capital libanesa destruiu dezenas de edifícios e obrigou à fuga de milhares de habitantes, deixando várias famílias a dormir na rua. Um balanço provisório das autoridades libanesas aponta para pelo menos seis mortos.
Ao matar Hassan Nasrallah, Israel "ultrapassou todas as linhas vermelhas", condenou o primeiro-ministro iraquiano, Mohamed Chia al-Sudani, ao passo que o movimento islamita palestiniano Hamas, há quase um ano em guerra com Israel na Faixa de Gaza, disse tratar-se de "um ato terrorista cobarde".
O seu assassínio "reforçará a nossa determinação", afirmaram os rebeldes Huthis do Iémen, e levará "à destruição de Israel", declarou o primeiro vice-presidente iraniano, Mohammad Reza Aref, cujo país decretou cinco dias de luto nacional.
Por seu lado, o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, condenou o que classificou como uma "agressão brutal", enquanto Damasco expressou repúdio por uma "agressão desprezível".
Financiado e armado pelo Irão, o Hezbollah foi criado em 1982 por iniciativa dos Guardas da Revolução.
A "linha" ideológica de Nasrallah "continuará, e o seu objetivo sagrado será alcançado com a libertação de al-Quds (Jerusalém)", prometeu Teerão.
O antecessor de Hassan Nasrallah, Abbas Moussaoui, foi morto em fevereiro de 1992 por um 'raid' israelita à coluna em que seguia, no Líbano.
Apesar dos golpes desferidos pelas forças israelitas, que incessantemente bombardeiam os bastiões do Hezbollah, o movimento anunciou hoje ter disparado 'rockets' para o norte de Israel, a maioria dos quais foi intercetada.
Na segunda-feira passada, o Exército israelita iniciou uma violenta e mortífera campanha de bombardeamentos contra o Hezbollah no Líbano, após quase um ano de fogo cruzado transfronteiriço com aquela milícia libanesa.
O Hezbollah abriu uma frente de batalha contra Israel um dia após o início da guerra em Gaza, desencadeada por um ataque do seu aliado palestiniano Hamas em território israelita, a 07 de outubro de 2023.
Israel afirma agir para impedir que o Hezbollah dispare sobre o norte do seu território, que faz fronteira com o sul do Líbano, e assim permitir o regresso de dezenas de milhares de habitantes que se viram obrigados a fugir.
Hoje, o Exército israelita indicou ter realizado ataques a "140 alvos do Hezbollah" desde sexta-feira à noite. Um novo ataque israelita visou igualmente os subúrbios do sul de Beirute, atingindo um edifício, segundo uma fonte da segurança.
Perante a "deterioração da situação de segurança" na região, a Comissão Europeia e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação recomendaram às companhias aéreas que evitem os espaços aéreos do Líbano e de Israel até 31 de outubro.
Desde segunda-feira, os bombardeamentos israelitas fizeram mais de 700 mortos, na maioria civis, segundo o Ministério da Saúde libanês.
Num ano, mais de 1.500 pessoas foram mortas - um número mais elevado do que o dos 33 dias de guerra entre Israel e o Hezbollah em 2006.
Leia Também: Morte de Nasrallah era "condição essencial" para "atingir objetivos"