A antecipação, ordenada em setembro pelo Presidente Nicolás Maduro, procura dar um impulso à contraída economia venezuelana, mas muitos comerciantes ainda se preparam para colocar os enfeites e fazer promoções típicas da época nos estabelecimentos comerciais, com a esperança de que este Natal "ajude a equilibrar as contas".
"Não é a primeira vez que o Presidente [Nicolás Maduro] antecipa o Natal, em termos comerciais, mas ainda é cedo para adornar e para pensar em ofertas natalícias. Passámos por meses muito complicados como agosto, por exemplo, em que as vendas estiveram muito contraídas, mas esperamos equilibrar as contas até finais do ano", explicou um comerciante à Agência Lusa.
Proprietário de um mini-supermercado em Caracas, Alberto Martínez, 65 anos, acredita que vão "ser necessárias umas duas semanas para que o comércio entre em 'sintonia' com o Natal".
"É preciso também que as pessoas recebam os subsídios e consigam algum dinheiro extra, porque enquanto isso não acontecer, as compras que vão fazer, serão as necessárias para o dia a dia", frisou.
Proprietária de uma padaria em Caracas, Deicy Álvarez, 55 anos, lembra-se de que "noutros tempos, já a partir de outubro aumentava a procura de "pan de jamón", variedade de pão de fiambre fumado mais consumido durante a quadra do Natal.
"Nos últimos anos, o Natal tem chegado lentamente. O consumo já não é como antes e a crise tem feito que as pessoas sejam mais seletivas no que vão comprar. Antecipar o Natal pode ser bom para a economia, mas para que as pessoas comprem é preciso que tenham dinheiro", explicou.
Em 03 de setembro, durante o seu programa semanal de televisão, Nicolás Maduro anunciou que iria antecipar o início das celebrações natalícias para 01 de outubro "em homenagem" e " gratidão" ao "povo trabalhador" venezuelano.
"Estamos em setembro e cheira a Natal, cheira a Natal. E é por isso que este ano, em homenagem a vocês, em gratidão a vocês, vou decretar que o Natal será antecipado para o 1º de outubro", disse o Presidente.
Durante este período e até ao final de dezembro, é feita a distribuição de ajuda e sacos de alimentos nos bairros, através dos chamados Comités Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), que em várias ocasiões chegaram a incluir pernil de porco português.
A Venezuela realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos.
A oposição venezuelana contesta os dados oficiais e alega que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia, obteve quase 70% dos votos.
Oposição e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente. Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.
A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) reagiu ao anúncio de Maduro rejeitando o uso político do Natal.
"O Natal é uma celebração universal. O modo e o tempo da sua celebração são da competência da autoridade eclesiástica. Esta festividade não deve ser utilizada para fins propagandísticos ou políticos", explicou a CEV num comunicado divulgado um dia após o anúncio do Chefe de Estado.
Segundo a CEV, as datas a considerar para o Natal incluem o dia 01 de dezembro, quando se inicia o 'Advento' ou a preparação para a comemoração do nascimento de Jesus, e o início do "tempo litúrgico", que começa a 25 de dezembro e termina a 06 de janeiro.
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