"As autoridades israelitas têm de anular as cruéis e ilegais ordens de 'evacuação' --- eufemismo israelita para deslocação forçada --- emitidas na semana passada para os residentes da província de Gaza Norte e permitir imediatamente a entrada sem entraves de fornecimentos essenciais, incluindo alimentos e combustível, na zona", afirma a organização de defesa dos direitos humanos, em comunicado.
Segundo a Amnistia, na última semana, Israel emitiu três ordens de evacuação sucessivas para cidades e acampamentos de deslocados em Gaza Norte, numa "escalada aterradora da longa lista de horrores infligidos às pessoas que vivem na área a norte de Wadi Gaza desde outubro de 2023", início da ofensiva israelita no enclave palestiniano, após o ataque de 07 de outubro do grupo islamita Hamas em território israelita.
"O mundo tem de parar de assistir enquanto Israel usa o cerco, a fome e os crimes atrozes para deslocar à força e destruir civis e a vida civil", defende Heba Morayef, diretora regional para o Médio Oriente e Norte de África da organização, citada no comunicado.
Para a Amnistia, estas ordens "têm de ser revogadas e tem de haver um cessar-fogo imediato por todas as partes, para pôr termo à avalanche de sofrimento que tem vindo a envolver os civis em Gaza há mais de um ano".
Heba Morayef condena a atitude da comunidade internacional perante a situação em Gaza: "O que está para além de qualquer compreensão é o facto de a comunidade internacional ter permitido que este horror se repetisse", afirma.
"Passaram nove meses desde que o Tribunal Internacional de Justiça avisou que o risco de genocídio em Gaza é real, mas as autoridades israelitas continuam a violar as medidas provisórias ordenadas pelo tribunal", refere ainda o comunicado.
A Amnistia sustenta que "os líderes mundiais devem exigir um cessar-fogo imediato para aliviar o sofrimento sem precedentes a que se tem assistido no último ano".
"Para além de um cessar-fogo imediato e do fim do cruel e desumano bloqueio a Gaza e do seu cerco a norte, Israel tem de conceder acesso imediato a Gaza a monitores independentes para investigar todos os ataques. Tem de haver responsabilização pela devastação que tem sido levada a cabo contra a população de Gaza no último ano", afirma Heba Morayef.
A Amnistia recorda que, no início dos ataques israelitas, cerca de 1,1 milhões de palestinianos que viviam na zona a norte de Wadi Gaza "foram sujeitos a uma ordem ilegal de 'evacuação' em massa, que obrigou centenas de milhares de pessoas a fugir para sul, em busca de segurança".
Durante meses, as cerca de 400 mil pessoas que permaneceram a norte de Wadi Gaza ficaram em grande parte isoladas do resto da Faixa de Gaza por uma zona militar israelita fortificada, sujeitas a fome generalizada, enquanto "as autoridades israelitas obstruíam e negavam repetidamente o acesso humanitário à área", aponta a organização.
Com o apertar do cerco nos últimos dias, a situação "tornou-se exasperante", com "cenas horríveis na sequência dos mortíferos ataques aéreos israelitas", prossegue a organização internacional.
"Os civis têm sido obrigados a suportar os ataques e os bombardeamentos israelitas sem tréguas, sem acesso a bens essenciais à sobrevivência, nomeadamente alimentos e água potável", relata ainda a Amnistia Internacional.
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