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EUA. Sondagens são "galáxia distante vista por telescópio de 1600"

O cientista político norte-americano Daniel Hopkins olha com cautela para as sondagens das eleições presidenciais dos Estados Unidos, avaliando que, neste momento, é como tentar ver uma "galáxia distante através de um telescópio dos anos 1600".

EUA. Sondagens são "galáxia distante vista por telescópio de 1600"
Notícias ao Minuto

19/10/24 13:45 ‧ Há 2 Horas por Lusa

Mundo EUA/Eleições

Em entrevista à agência Lusa em Filadélfia, no estado da Pensilvânia, onde é professor universitário de Ciência Política, Daniel Hopkins advogou que as sondagens de intenção de voto num país de dimensões continentais e tão diverso como os Estados Unidos não são capazes de "ter precisão suficiente".

 

"As sondagens realmente mostram que Donald Trump e Kamala Harris ficaram ligeiramente mais próximos nesta corrida. Mas, em parte, é muito, muito difícil fazer levantamentos num país tão diverso. Há grupos importantes na população que votarão em grande número, mas eles tendem a não entrar nas sondagens", observou.

"Estamos então num estágio em que é como estarmos a tentar olhar para uma galáxia distante através de um telescópio dos anos 1600. As nossas sondagens simplesmente não têm precisão suficiente para nos dizer exatamente quem vai ganhar, quando temos estados em que se espera que os candidatos estejam muito próximos um do outro", explicou.

A candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, que entrou tardiamente na corrida eleitoral após a desistência do atual Presidente, Joe Biden, conseguiu unir o partido em torno da sua nomeação e conseguiu liderar as sondagens de intenção de voto a nível nacional durante várias semanas. Contudo, nos últimos dias, quando faltam cerca de três semanas para o sufrágio, a margem de diferença entre a democrata e o seu rival republicano, o ex-presidente Donald Trump, tem vindo a diminuir.

Daniel Hopkins, que leciona atualmente na Universidade na Pensilvânia e que já deu aulas nas Universidades de Yale e de Georgetown, admite a possibilidade de o entusiasmo em torno da vice-presidente estar a diminuir, mas não consegue ver - devido ao atual modelo de sondagem - evidências suficientes para tirar essa conclusão.

"É possível que algum nível de entusiasmo esteja a diminuir. Mas acho que para saber isso precisaríamos de ver evidências das mesmas pessoas entrevistadas várias vezes. Contudo, a maioria das nossas sondagens, em vez disso, apenas fala com um novo grupo de pessoas de cada vez. Logo, é um pouco difícil saber se as sondagens estão a mudar porque agora temos grupos ligeiramente diferentes de pessoas a participar ou se estão a mudar por causa de alterações subjacentes nas preferência de voto ou entusiasmo do eleitorado", frisou o docente.

A nível nacional, Kamala Harris terminou a semana passada com 48,4% das intenções de voto, contra 46% de Trump, segundo as contas do 'site' Fivethirtyeight, que usa a média de várias sondagens nos Estados Unidos.

Já uma nova sondagem divulgada na quarta-feira pela Harvard CAPS/Harris mostra que 48% dos primeiros eleitores dos estados decisivos disseram que votaram em Trump, e 47% na vice-presidente.

Analistas esperam que a eleição seja renhida em alguns estados decisivos, incluindo Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, onde as sondagens mostram que Kamala e Trump estão lado a lado.

As eleições estão marcadas para 05 de novembro e vários estados já iniciaram o processo de voto antecipado e por correspondência.

Hopkins adiantou à Lusa que um dos preditores mais confiáveis de como as pessoas votam nos Estados Unidos é a sua origem étnica e racial, "com afro-americanos e também, em grande medida, latinos ou hispano-americanos a tender inclinar-se mais para o Partido Democrata, enquanto os americanos brancos são um pouco mais pró-republicanos, embora muitos americanos brancos votem nos democratas", disse.

À incerteza em torno de quem vencerá a eleição, junta-se igualmente a dúvida sobre se Donald Trump aceitará uma eventual derrota, à imagem daquilo que aconteceu em 2020, quando o magnata republicano afirmou ter sido vítima de fraude eleitoral por parte dos democratas e instou os seus apoiantes a marchar até ao Capitólio em 06 de janeiro de 2021, uma situação que culminou num ataque com cinco mortes e cerca de 140 polícias feridos.

Nas suas últimas entrevistas, Trump manifestou alguma ambiguidade e afirmou que só aceitará o resultado das presidenciais de 2024 se os mesmos forem "justos e livres".

"Não há provas generalizadas de fraude como os republicanos sugeriram. (...) É certamente alarmante que tenhamos visto alguma violência em Washington após a última eleição, e espero muito que esta eleição seja pacífica e que eu tenha todos os motivos para esperar que esta seja livre e justa. (...) Será responsabilidade de qualquer lado que perder reconhecer que perdeu e então permitir uma transição pacífica de poder", afirmou Hopkins.

Nos últimos meses, a ala e o eleitorado mais radical do Partido Republicano têm ecoado ameaças de "guerra civil" em caso de derrota do seu candidato, Donald Trump.

O cientista político, que se especializou em política racial e étnica e comportamento político, acredita que as conversas em torno de uma "guerra civil" são "frequentemente exageradas", mas admite que tudo dependerá de como Donald Trump e o seu candidato a vice-presidente, JD Vance, estão dispostos a reconhecer os resultados eleitorais.

"Eu estudo o comportamento do eleitor e o que eu diria é que há um amplo apoio entre os americanos para um reconhecimento de quem ganha e quem perde. Eu também acho que essa conversa sobre uma guerra civil é frequentemente exagerada, mas, em parte, as ações dependerão do que acontece com a eleição e se Donald Trump e JD Vance estão dispostos a reconhecer se perderem e sob quais condições", concluiu, em entrevista à Lusa.

Leia Também: "Fricções" de Harris e "imprevisibilidade" de Trump face a China

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