China e Irão apontam o dedo aos EUA face à violência em Ferguson
Os distúrbios em Ferguson, no estado do Missouri, na sequência da morte de um adolescente negro desarmado, colocaram os Estados Unidos sob a mira de duras críticas internacionais, nomeadamente da China e do Irão que acusam Washington de hipocrisia.
© Reuters
Mundo Distúrbios
Estes países, habituados a serem criticados pelos Estados Unidos em matéria de direitos humanos, defendem que os incidentes ocorridos em Ferguson após a morte do adolescente Michael Brown, morto a tiro por um polícia branco, evidenciam o "duplo critério" das autoridades norte-americanas, mas também as tensões raciais que ainda persistem naquele país.
Na China, o caso está a ter destaque na comunicação social. A agência noticiosa oficial chinesa Xinhua escreveu que os "tumultos de Ferguson revelam uma divisão racial nos Estados Unidos", salientando ainda "uma falha nos direitos humanos".
O mesmo artigo afirmou que o caso de Ferguson "demonstra uma vez mais que, mesmo um país que tem tentado desempenhar ao longo dos anos o papel de juiz e de defensor internacional dos direitos humanos, ainda existe muito espaço para realizar progressos em casa".
"O que os Estados Unidos precisam de fazer é concentrar-se em resolver os seus próprios problemas antes de apontar o dedo aos outros", acrescentou o mesmo texto.
Também surgiram nas redes sociais chinesas mensagens, algumas em tom irónico, sobre os distúrbios de Ferguson.
"Isto são os direitos humanos nos países democráticos", escreveu um utilizador da rede social Sina Weibo, um serviço similar ao Twitter criado na China.
Os acontecimentos em Ferguson também estão a ser seguidos com atenção no Irão, com Teerão a afirmar que o caso evidencia as divisões raciais nos Estados Unidos e o duplo critério em matéria de direitos humanos.
"A discriminação direcionada contra a comunidade negra na América pela polícia e pelo sistema judicial e a repressão de manifestantes (...) são claros exemplos de violações dos direitos humanos das minorias étnicas nos Estados Unidos", referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, num comunicado.
Também o guia supremo iraniano, Ali Khamenei, se pronunciou sobre o assunto.
"Hoje, como no passado, os afro-americanos continuam sobre pressão, oprimidos e sujeitos a discriminação", escreveu Ali Khamenei na rede social Twitter.
A Rússia, que tem sido alvo da condenação internacional nos últimos meses por causa da intervenção na Ucrânia, também se pronunciou sobre os incidentes em Ferguson.
"Pedem a outros países para garantirem a liberdade de expressão e não suprimirem manifestações anti-governo, enquanto as autoridades norte-americanas não toleram qualquer cerimónia no seu território por parte daqueles que expressam ativamente o seu descontentamento com desigualdades persistentes", referiu Konstantin Dolgov, o representante para os direitos humanos do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, citado pelas agências internacionais.
"Parece-me que os responsáveis norte-americanos faziam melhor ao preocupar-se com os seus problemas internos de grande escala [...] em vez de seguir políticas do passado de intervenção nos assuntos de outros países e na mudança de regimes indesejáveis sob o falso pretexto de proteger a democracia e os direitos humanos", frisou o representante russo.
O Egito - onde pelo menos 1.400 pessoas, a maioria manifestantes islamitas, foram mortas em confrontos com as forças de segurança -, criticou igualmente a intervenção da polícia norte-americana.
O porta-voz do Ministério do Interior egípcio, Hany Abdel Lattiff, afirmou que a polícia norte-americana está a usar uma força "excessiva".
"A polícia está a usar armas pesadas que são usadas na guerra. Nem sequer vimos os manifestantes a usarem cocktails Molotov ou espingardas. Têm exigências legítimas", disse o representante.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio disse na terça-feira que está "a acompanhar de perto" a situação em Ferguson e reforçou o apelo de contenção realizado pelas Nações Unidas.
A 09 de agosto, um agente da polícia, identificado como Darren Wilson, abateu a tiro Michael Brown, de 18 anos. Testemunhas do incidente disseram à imprensa local que Brown e um amigo caminhavam pelo meio de uma rua, quando a polícia os mandou parar.
Os protestos e a violência começaram no dia a seguir, quando grandes grupos de pessoas realizaram uma vigília no local o jovem foi morto.
De acordo com a imprensa norte-americana, a autópsia realizada pelas autoridades locais indicou que Brown foi atingido por seis tiros.
O Procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, ordenou uma segunda autópsia, federal, "devido às circunstâncias extraordinárias em torno do caso e a pedido da família de Brown" e prometeu uma investigação transparente, completa, justa e independente.
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