O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tinha dito na sexta-feira que os dois autores de um ataque à sede das Indústrias de Defesa da Turquia, perto de Ancara, "se infiltraram" na Síria.
O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), em luta armada contra as autoridades turcas desde 1984, assumiu a responsabilidade pelo ataque, que fez cinco mortos, além dos dois atacantes, e 22 feridos.
"A Turquia não tem provas que sustentem as suas alegações e não temos qualquer ligação com o ataque de Ancara", assegurou o chefe das Forças Democráticas Sírias (SDF), Mazloum Abdi, em entrevista à AFP.
Segundo Mazloum Abdi, a investigação aberta pelas forças que lidera concluiu que "nenhum dos atacantes entrou na Turquia vindo do território sírio".
A Turquia respondeu ao ataque bombardeando "alvos do PKK" no norte da Síria e no Iraque.
Segundo Mazloum Abdi, os ataques no nordeste da Síria "deixaram 17 mortos, incluindo dois soldados, sendo os restantes civis".
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), sediado no Reino Unido mas que conta com uma vasta rede de fontes na Síria, afirmou que cerca de uma centena de ataques tiveram como alvo territórios controlados pela administração autónoma curda.
A organização não governamental (ONG) alegou que infraestruturas civis, incluindo silos, padarias, centrais elétricas e instalações petrolíferas, além de posições das forças curdas, tinham sido alvos.
A Turquia considera as Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), que dominam as FDS, como uma ramificação do PKK, que descreve como um "grupo terrorista".
Para Abdi, o objetivo destes ataques "não é simplesmente responder ao que aconteceu em Ancara [...], mas enfraquecer a administração autónoma curda, aniquilá-la e forçar os habitantes a partir".
Segundo o comandante das FDS, "o Estado turco está a aproveitar os acontecimentos atuais no Médio Oriente, com a atenção centrada em Gaza, no Líbano e no ataque israelita ao Irão", para "continuar os seus ataques" contra as áreas curdas da Síria.
O chefe das forças curdas assegurou estar aberto ao diálogo com a Turquia para acalmar as tensões, mas exigiu o fim dos ataques de Ancara, que, admitiu, podem aumentar.
"Estamos prontos para resolver os problemas com a Turquia através do diálogo, mas não sob a pressão de ataques", sublinhou.
Num país fragmentado por 12 anos de guerra, as FDS controlam uma zona curda semiautónoma onde estão também destacadas forças norte-americanas, o maior contingente da coligação internacional antijihadista na Síria.
O responsável curdo criticou ainda os seus aliados norte-americanos por não terem protegido as forças curdas, dizendo que a posição da coligação internacional antijihadista era "fraca".
As forças curdas contam com o apoio de Washington, também aliado de Ancara no seio da NATO (sigla em inglês da Organização do Tratado do Atlântico Norte).
O comandante das FDS manifestou ainda a sua preocupação com as próximas eleições presidenciais norte-americanas, em novembro, acreditando que uma eleição do republicano Donald Trump poderá enfraquecer o apoio de Washington às FDS.
"Em 2019, tivemos uma experiência mal sucedida com a administração do Presidente Trump", disse.
Ancara lançou a sua última grande ofensiva na Síria em outubro de 2019, quando o então presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, disse que as tropas americanas tinham cumprido a sua missão no país e iriam retirar-se.
"Mas estamos confiantes em que os Estados Unidos [...] tomem as suas decisões [com base nos seus] interesses estratégicos [na região]", disse.
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