Exército chadiano acusado de ter morto por engano "dezenas" de pescadores na Nigéria

A contraofensiva chadiana contra o Boko Haram na região do Lago Chade, liderada pelo Presidente Déby, foi acusada hoje por pescadores locais e milícias anti-'jihadistas' de ter morto por engano "dezenas" de pescadores na Nigéria, querendo atingir os extremistas.

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Lusa
01/11/2024 00:03 ‧ 01/11/2024 por Lusa

Mundo

Nigéria

Um oficial do Estado-Maior do Chade, que pediu o anonimato, confirmou à agência France-Presse que os ataques "foram efetuados nas ilhas que fazem fronteira com a Nigéria e o Níger".

 

Um responsável do Estado-Maior chadiano que pediu o anonimato confirmou à AFP que os ataques "operavam nas ilhas situadas nas fronteiras da Nigéria e do Níger".

"O Boko Haram mistura-se frequentemente com pescadores e agricultores sempre que comete os seus crimes. Por isso, é difícil distinguir entre a população e os terroristas", sublinhou.

Um líder de uma milícia anti-'jihadista' na Nigéria, Babakura Colo declarou que "um avião (de combate) do exército chadiano atacou pescadores na ilha de Tilma, matando muitos pescadores".

"O avião confundiu os pescadores com os terroristas do Boko Haram que atacaram uma base militar no Chade no domingo", prosseguiu.

O número de mortos deste ataque, efetuado no domingo à noite pelo Boko Haram contra uma base militar na região do Lago Chade, é de "cerca de 40", segundo as autoridades chadianas.

"O caça cercou Tilma antes de começar a lançar bombas, enquanto as pessoas corriam em todas as direções para se abrigarem", disse um pescador, Sallau Arzika.

A contraofensiva lançada pelo exército chadiano contra o Boko Haram na região do Lago Chade está a ser dirigida pessoalmente no terreno pelo Presidente Déby, anunciaram hoje comunicados presidenciais.

"O Presidente da República, Chefe Supremo das Forças Armadas, Mahamat Idriss Deby Itno, continua acampado nas margens do Lago Chade, onde dirige pessoalmente a operação Haskanite", anunciou a presidência, na rede social Facebook, com uma fotografia do chefe de Estado fardado.

O Presidente Déby está "a aumentar o número de reuniões, a dar instruções e a orientar a fim de não dar qualquer hipótese aos elementos do Boko Haram", acrescentou.

"As tropas terrestres e aéreas mobilizadas para esta operação entraram em ação", declarou a presidência no início do dia.

A operação Haskanite, lançada na segunda-feira, é "puramente militar e relacionada com a segurança", disse Abderahim Bireme Hamid, primeiro-ministro interino do Chade, numa conferência de imprensa na quarta-feira, explicando que "não se trata apenas de proteger" as populações pacíficas, mas "trata-se de localizar, eliminar e destruir a capacidade do Boko Haram e dos seus afiliados de causar danos".

Os soldados chadianos são frequentemente alvo de ataques do Boko Haram na região do Lago Chade.

Esta vasta extensão de água e pântanos entre o Níger, a Nigéria, os Camarões e o Chade é pontilhada de ilhotas que albergam combatentes do grupo 'jihadista' ou do seu grupo dissidente, o Estado Islâmico na África Ocidental (Iswap).

A insurreição do Boko Haram começou em 2009 na Nigéria, onde, desde então, causou cerca de 40.000 mortos e deslocou mais de dois milhões de pessoas, antes de se espalhar para os países vizinhos. É difícil de contrariar devido à mobilidade dos seus combatentes armados.

Em março de 2020, o grupo levou a cabo uma ofensiva sangrenta contra outra base militar na região do Lago Chade, matando cerca de uma centena de pessoas e causando as perdas mais pesadas alguma vez registadas pelo exército chadiano.

O marechal Idriss Déby, que governou o Chade durante 30 anos, estava habituado a comandar operações no terreno e foi morto na frente de batalha pelos rebeldes em 2021.

O seu filho Mahamat Idriss Déby, eleito em maio chefe de Estado em eleições contestadas, foi proclamado pelo exército, aquando da morte do pai, presidente de transição à frente de uma junta de 15 generais depois de suspender a Constituição e dissolver o parlamento.

Leia Também: Presidente da República nigeriano remodela Governo no meio de crise

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