A Carolina do Norte foi o estado onde nas últimas eleições Donald Trump ganhou por uma margem mais estreita, tendo perdido pontos em relação a 2016, e é neste estado que repousam muitas das esperanças democratas de evitar um regresso do republicano à Casa Branca.
Stacy Ann, hospedeira de 35 anos da Carolina do Norte, prefere dizer à Lusa em quem não votou - Donald Trump.
"Quero um Presidente que a nível global represente os Estados Unidos de maneira respeitável. Que não tenha sido condenado ou acusado de crimes, que não diz aos eleitores que 'se votarem em mim será a ultima vez que votam'", afirmações do candidato republicano que, considera, põem em causa o sistema democrático.
"Todos os meus familiares [portugueses] viveram no regime de [António Oliveira] Salazar e nem gostam de falar nisso. Sei que foi muito difícil e eu não quero viver nesse ambiente", afirma a filha de imigrantes portugueses em New Jersey, cidadã portuguesa e atualmente a tratar da cidadania também para o filho.
Para a luso-americana, que votou antecipadamente como quase metade dos norte-americanos, entre os assuntos mais importantes nestas eleições está a "autonomia das mulheres sobre o próprio corpo", numa altura em que em muitos estados o Partido Republicano avança com restrições ao aborto.
"Acredito que não devo ditar o que uma mulher deve ou precisa de fazer com o seu corpo. (...) As mulheres devem receber cuidado de médicos e não de políticos", frisa.
Já para Rosemary Pereira, a principal preocupação nesta eleição é a economia e a elevada inflação, que considera estar a prejudicar o seu negócio nos arredores de Raleigh, no leste do estado. Por isso votou em Donald Trump, sem hesitações.
"Acho que Trump melhorou muita coisa, a economia claro que sim. Mas também do outro lado estão [democratas] há quatro anos sem nada feito", afirma.
Nem a idade avançada de Trump, quase 20 anos mais velho do que Kamala Harris, e que seria o mais idoso Presidente da história ao concluir o próximo mandato, impede Rosemary de o querer de volta.
"Depois de ver o [Joe] Biden, um Presidente que nem podia estar de pé...", relativiza.
Também o facto de Harris ser mulher a poderia fazer mudar o sentido de voto: "Se (a mulher) não fosse ela", talvez votasse democrata, mas Harris "não fez nada" enquanto vice-presidente.
A mais recente pesquisa da Emerson College indica que as mulheres preferem Kamala Harris por uma margem de 12 pontos e os homens votam em Trump por uma percentagem similar.
Também na Carolina do Norte, Jason Resendes, de 40 anos, assume que se inclina para "visões conservadoras", apontando como principais questões na sua escolha a economia, assuntos de veteranos, imigração ilegal e assuntos internacionais.
E o ex-militar de uma família açoriana oriunda da comunidade de New Jersey - onde os luso-americanos se inclinavam historicamente para os democratas devido à imigração portuguesa por parte do ex-presidente John F. Kennedy - critica a atual administração em questões como a economia e política externa e elogia Trump, pelo tratamento dos veteranos e por assegurar no seu mandato "a paz no Médio Oriente".
"Trump estava a encontrar maneiras realmente diferentes de diminuir a imigração ilegal e este regime atual está apenas a permitir a entrada de qualquer pessoa no país, incluindo assassinos, violadores, terroristas, etc", adiantou.
Também a mulher, Annabela Resendes, indica que as suas opiniões "estão mais alinhadas com os candidatos republicanos".
"Os assuntos mais importantes para mim são a economia, o crime, a política externa e a imigração", afirma a dinamizadora de atividades da comunidade luso-americana e que está a planear comemorações do Dia de Portugal na cidade de Charlotte.
Na Florida, o reformado Rafael Pacheco votou Trump sobretudo por causa da inflação.
"Não gosto da personalidade dele, (...) mas como Presidente, homem para defender os interesses do país e qualidade para proteger esses interesses, é o ideal", diz à Lusa, dando como exemplo o encarecimento de bens essenciais.
"Há quatro anos fui a um supermercado português comprar aquelas coisas - bacalhau, azeitonas, queijo, tudo isso - e gastei 180, quase 200 dólares. Há três dias fui ao mesmo supermercado, comprei relativamente as mesmas coisas, talvez menos, e custou-me 367 dólares!", indigna-se o luso-americano, que vive na zona mais democrata da Florida, o condado de Miami-Dade. A mulher irá votar em Kamala Harris.
Também na Florida, que já foi um estado fortemente disputado pelos dois partidos, mas hoje é solidamente republicano, Artur Potdevin assume apoio a Trump "100 por cento", cuja presidência trouxe "os melhores anos que a América teve", com muito trabalho e a economia ótima": hoje, os preços de tudo "são a dobrar".
"E os imigrantes ilegais estão a estragar o país, a vandalizar apartamentos, entrar com armas", afirmou à Lusa o português residente na costa do Golfo do México, profissional de transportes.
Mais a norte, na Virgínia, um luso-americano que pediu para não ser identificado por motivos profissionais indicou que já votou em Kamala Harris, mas mais para impedir que Trump regresse à Casa Branca.
"Kamala é o menor de dois males. O mais importante é impedir o regresso do caos, garantir alguma estabilidade", adiantou o engenheiro de 45 anos, há mais de 20 nos Estados Unidos e tradicionalmente eleitor democrata.
Também Harris é a preferida de uma profissional de comunicação luso-americana de 44 anos residente de longa data nos Estados Unidos, que já viveu em Washington DC e, mais recentemente, em Nova Iorque e que pede para não ser identificada por motivos profissionais.
Frisando que vota no melhor candidato e não no partido, identifica-se mais com as propostas "equilibradas" de Harris e desconfia do ex-presidente republicano: "Trump revela ser uma pessoa sem caráter, inclusive para os que trabalharam com ele, e fala como vendedor só para ter votos e diz o que as pessoas querem ouvir."
A luso-americana já votou e acredita que a democrata "ganha por um fio de bigode de gato". Anda pela cidade com uma t-shirt com uma imagem de Kamala e a legenda "Yes, we Kam", uma alusão à candidata democrata e ao slogan do ex-presidente Barack Obama, "Sim, podemos".
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