Ainda não eram 19h00 locais (17h00 em Lisboa) quando dois camiões de transporte de militares chegaram à avenida Acordos de Lusaka, palco esta manhã de várias ações de vandalização e saque de duas lojas, de mobiliário e telecomunicações, no centro comercial do grupo sul-africano Shoprite.
Após uma rápida formatura, de arma a tiracolo e pás nas mãos, os militares seguiram para aquela avenida e ruas adjacentes para limparem as marcas de dezenas de pneus e contentores do lixo incendiados, removendo pedras de todos os tamanhos e todo o rasto de destruição, perante o olhar surpreendido dos moradores.
"Um grande serviço que estão a fazer", desabava uma moradora, ao ver o trabalho dos militares, que retiravam destroços ainda incandescentes das mesmas ruas que, horas antes, estavam tomadas pelo caos e pela destruição, bem como o que sobrou das barricadas montadas por apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro e que convocou estes protestos.
No mesmo local, horas antes, a polícia tinha travado manifestações dos apoiantes de Venâncio Mondlane com tiros para o ar e lançamento de gás lacrimogéneo, com aqueles a responderem com arremesso de pedras e garrafas.
Num trabalho que previsivelmente vai prolongar-se durante horas, face ao nível de vandalização das vias nesta zona da cidade, os militares seguiram depois em direção à avenida Joaquim Chissano, que esteve intransitável, devido a estes confrontos, durante quase todo o dia.
O ministro da Defesa Nacional de Moçambique, Cristóvão Chume, reconheceu na terça-feira sinais de "intenção firme e credível de alterar" a ordem constitucional, avisando que, se o escalar da violência continuar, as Forças Armadas serão chamadas a "proteger" o Estado.
"Se o escalar da violência continuar não se coloca outra alternativa senão mudarmos as posições das forças no terreno e colocarmos as Forças Armadas a proteger aquilo que são os fins do Estado", disse o ministro, numa conferência de imprensa em Maputo, assumindo já então que os militares estão no terreno apenas no apoio às restantes forças de segurança e à população, concretizada esta noite na reposição da vandalização nas principais avenidas da cidade.
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