Yunus apelida de "humilhante" pedido de financiamento dos países pobres
O líder em exercício do Bangladeche e prémio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, apelidou hoje de humilhante a batalha dos países pobres pelo financiamento do clima pelos países ricos.
© Getty Images
Mundo COP29
"É muito humilhante para as nações virem pedir dinheiro para resolver (...) o problema que outros lhes causaram", disse o Nobel da Paz Muhammad Yunus à AFP, em Baku, onde decorre a conferência anual da ONU sobre o clima, a COP29.
A procura de um novo objetivo financeiro para ajudar os países em desenvolvimento a desenvolver as energias renováveis ou a resistir às catástrofes naturais é a questão central em Baku.
Os países ocidentais parecem relutantes em pagar mais em tempos de austeridade, apelando à mobilização do setor privado.
O terceiro dia da COP29 foi também marcado pelo aumento das tensões entre a França e o país anfitrião, o Azerbaijão, com a ministra francesa da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, a anunciar hoje que não vai participar na COP29 na sequência de ataques "inaceitáveis" do Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, contra a França e a Europa.
O Presidente, num discurso na COP29, atacou a França pela história colonial do país e falou de "crimes" cometidos nos territórios ultramarinos, incluindo a Nova Caledónia.
No discurso de abertura da COP29, na segunda-feira, Ilham Aliyev também disse que os recursos naturais são uma "dádiva de Deus", seja o petróleo, o gás, o vento, o sol, o ouro, e que os países não têm culpa de possuir bens que os mercados e as pessoas precisam.
Hoje, também na COP29, a ministra brasileira do Ambiente, Marina Silva, pediu cautelas no uso dos presentes divinos. "Temos de ser comedidos na questão dos presentes de Deus (...). Por exemplo, se comemos açúcar em demasia com certeza acabaremos diabéticos", disse em conferência de imprensa.
A responsável entregou hoje às Nações Unidas em Baku o roteiro do país atualizado até 2035, no qual o Brasil se compromete a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 59-67% em relação a 2005.
Ao contrário dos avanços do Brasil vários líderes ocidentais declararam abertamente em Baku que pretendem aplicar o travão e não o acelerador na questão da luta climática.
A chefe do Governo italiano, Giorgia Meloni, afirmou que não há uma alternativa aos combustíveis fósseis e que é necessária uma visão realista.
E o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, afirmou: "Não podemos precipitar-nos nos esquecimentos industriais em nome da neutralidade carbónica".
Os debates sobre o clima decorrem durante aquele que deverá ser o ano mais quente de que há registo e que estabelecerá um novo recorde de emissões de dióxido de carbono, geradas pela queima de carvão, petróleo e gás, de acordo com uma nova estimativa dos cientistas da organização "Global Carbon Project".
Perante avisos dos cientistas e hesitações dos países o primeiro-ministro da Albania, Edi Rama, resumiu a situação num breve discurso perante o plenário.
"A vida continua com os seus velhos hábitos, e os nossos discursos bem intencionados sobre a luta contra as alterações climáticas não mudam nada", lamentou, questionando: "O que é que estamos a fazer nesta assembleia se, uma e outra vez, não existe vontade política comum para nos unirmos e passarmos das palavras aos atos?"
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