Violência de género. Afegãs contestam às escondidas opressão dos talibãs

As mulheres afegãs tiveram que se esconder hoje, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, para protestar contra a opressão e violência que sentem no país desde a chegada ao poder dos talibãs, em 2021.

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Lusa
25/11/2024 14:33 ‧ há 2 horas por Lusa

Mundo

Violência doméstica

Durante os protestos à porta fechada, realizados nas províncias de Tajar, Parvan e na capital nacional, as mulheres afegãs divulgaram vídeos onde mostram cartazes com mensagens como "uma sociedade sem mulheres é uma sociedade morta e sem esperança" e "As mulheres são humanas, não são mercadorias nem ferramentas".

 

"As leis impostas pelos talibãs são as principais destruidoras da nossa liberdade. Foram concebidas para controlar todos os aspetos das nossas vidas, desde a forma como nos vestimos até à nossa capacidade de trabalhar ou estudar", afirmou a ativista e fundadora do movimento Luz pela Liberdade das Mulheres, Maria Noori.

Mas "as mulheres são vistas como uma ameaça ao patriarcado", lamentou.

Nos últimos 1.198 dias -- desde 15 de agosto de 2021, dia em que os fundamentalistas talibãs retomaram o controlo político do país --, os protestos clandestinos, onde ativistas se gravam com o rosto totalmente tapado e sem revelar a sua localização, foram a única forma que as mulheres encontraram para reivindicar os seus direitos sem serem direta e abruptamente castigadas pelo Governo.

Apesar de não revelarem as suas identidades, as ativistas "trabalham em condições bastante perigosas", disse Maria Noori.

A brutalidade que os talibãs exercem sobre as mulheres afegãs agravou-se nos últimos meses com medidas como a exclusão das raparigas do ensino secundário, a proibição de as mulheres entrarem ou ficarem sozinhas em cada vez mais locais públicos, mesmo em parques, ou de trabalharem fora do território.

"Durante três anos, as mulheres enfrentaram graves violações e discriminação em todos os aspetos das suas vidas. Foram presas e torturadas por levantarem a voz perante o Governo talibã, enquanto a comunidade internacional, incluindo a ONU, observa e faz eco de toda a opressão e dificuldades impostas por nós", sublinhou Nahid Noori, também ativista dos direitos das mulheres.

Apesar da situação atual, os ativistas continuam a acreditar na força das mulheres afegãs e no papel essencial que desempenham para o futuro igualitário do Afeganistão.

"Enquanto continuarmos a resistir e a lutar pelos nossos direitos, há esperança. Se continuarmos a lutar pela justiça e pela igualdade, acredito que podemos ter um futuro melhor", concluiu Maria Noori.

Há dois meses, os talibãs afirmaram ser um absurdo acusá-los de discriminação de género e de outras violações dos direitos humanos, após quatro países - Austrália, Canadá, Alemanha e Países Baixos - terem anunciado que pretendiam responsabilizar as autoridades afegãs pelo tratamento dado às mulheres e raparigas do país.

O porta-voz adjunto dos talibãs, Hamdullah Fitrat, disse que os direitos humanos estão a ser protegidos no Afeganistão e que ninguém enfrenta discriminação.

"Infelizmente, está a ser feita uma tentativa de espalhar propaganda contra o Afeganistão através da boca de várias mulheres (afegãs) fugitivas e deturpar a situação", afirmou o porta-voz, numa mensagem publicada na rede social X.

"É absurdo acusar o Emirado Islâmico do Afeganistão de violar os direitos humanos e a discriminação de género", acrescentou o porta-voz adjunto dos talibãs, que assumiram novamente o poder em agosto de 2021.

Apesar de terem prometido um regime mais moderado após a tomada do poder em 2021, os talibãs impediram desde então as mulheres e as raparigas de frequentar o ensino para além do sexto ano e de frequentar muitos espaços públicos. O acesso à maioria dos empregos também está proibido.

Em agosto, o Ministério dos Vícios e das Virtudes promulgou leis que proíbem as mulheres de andarem com o rosto descoberto e de levantarem a voz em público.

A liderança talibã alega que as suas ações estão em conformidade com a sua interpretação da lei islâmica, a Sharia.

Leia Também: Grupo fundamentalista reivindica ataque em mesquita no Afeganistão

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