"Ele tomou medidas, mas não é suficiente. Tem até segunda-feira", publicou nas redes sociais Marine Le Pen, que se tornou o fiel da balança política em França, graças aos seus 140 deputados, de que o Governo precisa para resistir.
Foi esta a reação às medidas adotadas na quinta-feira pelo primeiro-ministro, que deu resposta positiva a algumas das "linhas vermelhas" que a extrema-direita tinha definido, como desistir de resgatar um imposto sobre a eletricidade e cortar a ajuda médica aos imigrantes ilegais.
Com esta última decisão, Barnier atirou-se para os braços da extrema-direita, deitando quase por completo por terra qualquer outra equação parlamentar. Mais concretamente, a de convencer os socialistas a romperem com o bloco de esquerda, para a qual tinha apelado, perante a difícil situação financeira que o país atravessa.
Michel Barnier procura a fórmula que lhe permita levar por diante as finanças do país sem ter uma maioria e, apesar de todos os líderes parlamentares terem passado pelo seu gabinete, parece estar a ouvir apenas os da extrema-direita, tendo sido sensível às suas exigências de não agravar a tributação das empresas e de reduzir ao máximo as subidas de impostos.
Mas continua a não ter o "sim" de Marine Le Pen, que parece ser a única garantia de continuidade de um Governo em funções desde setembro, numa Assembleia Nacional dividida em três blocos irreconciliáveis.
A líder da extrema-direita viu um filão na debilidade do executivo e quer tirar mais proveito dela. Vende como triunfos as concessões que obteve e que vão agradar ao seu eleitorado, tanto às classes trabalhadoras, que verão as suas faturas de eletricidade baixar mais que o previsto, como às bases mais tradicionais, satisfeitas com a redução da ajuda aos imigrantes.
Os novos cavalos de batalha de Le Pen passam por que o primeiro-ministro desista de congelar por seis meses a subida das pensões de 2025 e em deixar de subsidiar uma série de medicamentos.
Le Pen sabe que todas essas "linhas vermelhas" têm um preço e, com o objetivo de tornar um dia o seu partido, União Nacional, uma força governamental, garante que serão necessários mais cortes para financiá-las.
Como princípio geral, aponta duas fontes: a redução da ajuda aos imigrantes e a diminuição da contribuição da França para a União Europeia.
Mas, numa entrevista ao diário francês Le Monde, deixa outras pistas, como o aumento do imposto sobre as transações financeiras ou do imposto sobre a compra de ações.
"Eles só querem aumentar os impostos ou baixar as prestações sociais", afirma o líder da extrema-direita, que continua a considerar que o orçamento do Governo é mau.
A esperança de Barnier é que, mesmo que não o apoie, a extrema-direita desista de fazer cair o Governo. O primeiro-ministro poderia então fazer passar o orçamento sem votação parlamentar, através de um mecanismo constitucional que lhe permite fazê-lo, mas que o expõe a uma moção de censura.
Ao mesmo tempo, o chefe do Governo e a líder da extrema-direita entraram num confronto mais simbólico: Barnier recusa-se a que as suas últimas alterações orçamentais sejam uma concessão a Le Pen, o que enfurece a finalista das duas últimas eleições presidenciais francesas.
"Querem os nossos votos, mas não as nossas caras, há 40 anos que assisto a isso", disse ao Le Monde, recordando que o seu partido, com 11 milhões de votos, foi o mais votado nas eleições legislativas de julho.
Barnier, que prosseguiu a sua agenda oficial, que incluía uma visita a Limoges, preferiu não entrar em confrontos diretos e, fiel ao seu estilo de negociação paciente, moderou os ânimos e garantiu que não se sentia pressionado por um ultimato.
"Estamos numa abordagem de respeito e de diálogo", limitou-se a dizer, enquanto as suas equipas multiplicam os contactos para desbloquear a situação e prolongar a sobrevivência do executivo.
De quem ele sabe que não pode esperar muito é da esquerda, cujo líder, Jean-Luc Mélenchon, o acusou de fazer um pacto com a extrema-direita, augurou que o seu Governo tem os dias contados e pediu a demissão do Presidente da República, Emmanuel Macron.
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