"Vou nomear um primeiro-ministro nos próximos dias. Vou pedir a essa pessoa que crie um governo de interesse nacional. Esse primeiro-ministro irá formar um governo unido ao vosso serviço [do povo francês"], disse Emmanuel Macron, numa declaração ao país transmitida pela televisão.
Referiu ainda que a prioridade do próximo executivo será o Orçamento do Estado.
O chefe de Estado criticou a destituição do Governo de Michel Barnier (centro-direita), em funções há três meses, na quarta-feira, com os votos do bloco da esquerda e da extrema-direita (União Nacional).
"Os partidos escolheram o caos, a única agenda que une as esquerdas e direita radicais", declarou Macron, afirmando que os dois blocos se juntaram "numa frente anti-republicana".
Dirigindo-se aos franceses, disse: "Eles não querem construir. Não estão a pensar em vocês, nas vossas vidas. Só pensam nas presidenciais, para as precipitar, com cinismo e com desejo de caos".
Barnier apresentou hoje de manhã a sua demissão a Macron, que a aceitou e lhe pediu que continue a tratar dos assuntos correntes até que seja nomeado um substituto, segundo o Eliseu.
"Michel Barnier, em conjunto com os membros do governo, vai ocupar-se dos assuntos correntes até à nomeação de um novo governo", afirmou a Presidência francesa em comunicado.
No seu discurso ao país, o chefe de Estado francês começou por agradecer a Barnier, afirmando que o seu governo se mostrou "à altura do momento", lamentando que tenha sido censurado "apesar das concessões".
Mencionando o ponto de partida da crise, a dissolução surpresa da Assembleia Nacional em junho, após umas eleições europeias conquistadas pela extrema-direita, Macron referiu que a sua decisão não foi compreendida.
"Muitas pessoas culparam-me por esta decisão e sei que muitas continuam a fazê-lo. É um facto e é a minha responsabilidade", afirmou, argumentando, porém, que a situação exigia "uma nova organização política".
Macron acusou nomeadamente a União Nacional de só pensar nas eleições presidenciais, previstas para 2027, reiterando que irá cumprir o seu mandato.
"O mandato que me confiaram democraticamente é um mandato de cinco anos e exercê-lo-ei plenamente até ao fim", afirmou, referindo que ainda tem "30 meses" no cargo.
O país viveu hoje um dia de greve, com mais de 160 manifestações da função pública por toda a França, com impacto sobretudo na educação e no tráfego aéreo, numa paralisação convocada contra os cortes anunciados pelo Governo derrubado. As ações de protesto foram marcadas por apelos à demissão do chefe de Estado na sequência da moção de censura ao governo Barnier.
Segundo a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) reuniram-se mais de 200.000 pessoas nos protestos, 30.000 das quais em Paris. Já as autoridades francesas falaram em cerca de 130.000 manifestantes em todo o país, 3.000 na capital francesa.
Sobre o Orçamento do Estado, Macron garantiu que será apresentada na Assembleia Nacional, antes de meados de dezembro, uma lei especial de finanças para "assegurar a continuidade dos serviços públicos e a vida do país", visto que com a moção de censura o país ficou sem orçamento para 2025.
"A lei aplicar-se-á em 2025 às escolhas feitas em 2024, e conto com uma maioria para a aprovar no parlamento", acrescentou.
Emmanuel Macron apelou ainda à "reconstrução da nação", restaurando a sabedoria, unidade e esperança dos franceses a dois dias da reabertura oficial da Catedral de Notre-Dame de Paris, que reunirá dezenas de chefes de Estado e de Governo.
O Presidente francês, eleito em 2017 e reeleito em 2022, enfrenta o desafio de escolher um primeiro-ministro capaz de liderar um governo minoritário na Assembleia Nacional, onde nenhum partido detém a maioria, e o descontentamento crescente dos franceses que pode originar protestos nos próximos dias.
Macron é "a causa do problema" político e "sairá pela força dos acontecimentos", afirmou Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical França Insubmissa (LFI), no canal TF1, referindo que só apoiarão o novo primeiro-ministro se aplicar as medidas que a esquerda defende.
[Notícia atualizada às 20h40]
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