"O G20 deve assumir a liderança no domínio da justiça financeira. Como sabem, o financiamento é fundamental. Desde o crescimento económico inclusivo ao apoio à industrialização e à segurança alimentar, passando pela luta contra a desigualdade", disse António Guterres em Joanesburgo, que visita no início da presidência sul-africana do grupo.
O Pacto para o Futuro, acordado pelos líderes mundiais em setembro passado numa cimeira das Nações Unidas, "inclui compromissos que fornecem um roteiro para a reforma das instituições financeiras mundiais", sublinhou o secretário-geral da ONU num discurso no fórum de negociadores do G20.
"Estas instituições devem representar a economia atual e não o mundo de décadas passadas. E os países em desenvolvimento devem estar representados de forma justa na sua governação", afirmou Guterres.
Para o Secretário-Geral, estas organizações "devem também proteger as economias, especialmente as vulneráveis, dos choques globais".
O líder da ONU apelou ainda a "ações para que a arquitetura de resolução da dívida funcione de forma mais atempada e eficaz".
"Precisamos de soluções significativas para resolver a crise da dívida, para que os países possam investir na satisfação das necessidades básicas das suas populações e impulsionar o desenvolvimento a longo prazo.
O também ex-primeiro-ministro português instou o G20 a "liderar a justiça climática", uma vez que "muitos países vulneráveis são forçados a responder a uma crise que nada fizeram para criar".
Estes países em desenvolvimento, argumentou, não têm o apoio financeiro necessário para aproveitar os benefícios das energias limpas para aumentar a prosperidade e eliminar a pobreza.
"Enquanto maiores emissores mundiais, os países do G20 devem assumir a liderança, de acordo com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, reforçando que cada país do grupo tem de fazer mais para reduzir as emissões" de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global, afirmou Guterres.
Ao mesmo tempo, acrescentou que os países desenvolvidos devem apoiar os países em desenvolvimento com "tecnologia e financiamentos adequados" para conseguir uma transição para as energias limpas.
Por último, o chefe da ONU instou os membros do grupo a "liderar a justiça tecnológica" porque, "da tecnologia digital à inteligência artificial, o mundo em desenvolvimento precisa de aceder e beneficiar da revolução tecnológica".
Para além do seu discurso no fórum de negociadores do G20, Guterres reuniu-se com o Ministro das Relações Internacionais e da Cooperação da África do Sul, Ronald Lamola, para discutir as prioridades do país sul-africano para a sua presidência do bloco.
"Esperamos que, através da nossa presidência, possamos avançar para um mundo em que a sustentabilidade, a igualdade e a solidariedade orientem os nossos esforços para enfrentar os desafios mais prementes do planeta", afirmou Lamola numa intervenção conjunta com o secretário-geral da ONU.
No dia 1 de dezembro, a África do Sul substituiu o Brasil na liderança do bloco, assumindo o cargo até o final de novembro de 2025, sob o lema "Solidariedade, igualdade e sustentabilidade".
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