Fuga de informação revela interrogatórios de Netanyahu em caso de corrupção

O veterano documentalista Alex Gibney, que ao longo de uma carreira de décadas lidou com muitos assuntos polémicos, não estava a planear fazer um filme sobre Israel, até uma espantosa fuga de informação lhe aparecer à frente.

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© ABIR SULTAN/POOL/AFP via Getty Images

Lusa
14/12/2024 06:32 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

Netanyahu

Porém, a fuga acabou por se revelar um dilúvio.

 

De repente, Gibney, através de uma fonte que o contactou através da aplicação de mensagens Signal, começou a receber muitos vídeos com gravações de entrevistas da polícia ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, à sua esposa, Sara, ao seu filho, Yair, e a vários colaboradores, tudo no contexto do extenso caso de corrupção contra Netanyahu. O total excedeu as mil horas de gravações.

Este realizador, já distinguido com Óscares, não fala hebreu, mas percebeu que era algo grande e relevante.

Recorreu ao jornalista de investigação israelita Raviv Drucker, que fez um tratamento exaustivo do material e lhe disse: "Temos algo que é muito explosivo".

Depois Gibney recorreu à colega Alexis Bloom, que já tinha trabalhado em Israel, para dirigir.

O resultado: 'The Bibi Files' ('Os Arquivos Bibi', alcunha que designa Netanyahu), um documentário que teve a seu favor o calendário, uma vez que a sua estreia coincidiu com a presença do primeiro-ministro israelita em tribunal.

Se o calendário foi fortuito, o filme enfrenta outras dificuldades. Desde logo, Gibney e Bloom tiveram de obter financiamento sem revelar os financiadores, dado o secretismo envolvido. Muitos potenciais apoiantes e distribuidores também ficaram nervosos com a eventualidade de serem resolvidos, dada a ação militar israelita subsequente ao ataque do Hamas a Israel, em 07 de outubro de 2023.

E depois havia o maior obstáculo de todos: o filme não poder ser legalmente ser exibido em Israel.

Mas isto só conduziu a "uma grande pirataria do filme em Israel", disse Bloom.

E o impacto que teve foi aumentado pelo facto de Netanyahu se ter tornado o primeiro chefe de governo israelita a depor em tribunal enquanto acusado de crime.

Na terça-feira, prometeu derrubar a "absurda" alegação de corrupção com que foi acusado.  

'Bibi', o primeiro-ministro com mais anos no cargo no país, é acusado de fraude, quebra de confiança e aceitar subornos em três casos diferentes.

É acusado de ter aceitado charutos e champanhe avaliados em dezenas de milhares de dólares de um produtor de Hollywood, em troca de assistência em assuntos pessoais e comerciais, e de promover regulações vantajosas para empresários da comunicação social em troca de uma cobertura favorável.

Nos vídeos da polícia, 'Bibi', de 75 anos, expressa revolta pelas acusações, chama mentirosas às testemunhas e diz que tem assuntos mais importantes para tratar.  

Com frequência, as suas respostas são "não me lembro".

Mas Gibney contrapõe: "Temos várias pessoas gravadas que asseguram que ele tem uma grande memória" e compara que "em quase todas as questões em que pode ser incriminado, responde 'não me recordo'".

As críticas ao filme em Israel foram positivas, na sua maioria.

O produto final intermedeia gravações policiais com comentários de antigos dirigentes governamentais, colaboradores de, Netanyahu, jornalistas e analistas.

"Para Netanyahu, nada chama mais a atenção do que o som das grades da prisão a fecharem-se atrás dele", comentou Nimrod Novik, que foi conselheiro do antigo presidente e primeiro-ministro israelita Shimon Peres.

Um dos principais argumentos de Gibney e Bloom é que o medo de Netanyahu ser preso influencia as suas decisões políticas - da reforma judicial à guerra atual.

O filho de Netanyahu, Yair, de 33 anos, aparece a acusar os seus inquiridores: "Estão-me a investigar porque a polícia israelita tornou-se a polícia secreta Stasi (da antiga República Democrática Alemã), e quer derrubar o governo".

Leia Também: Netanyahu acusa Irão de apoiar terroristas "perdedores"

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