"Tomámos uma decisão crucial e elaborámos um roteiro comum para evitar um processo de défice excessivo da UE [União Europeia] contra a Áustria", declarou o líder do Partido da Liberdade (FPO, extrema-direita), Herbert Kickl, na primeira conferência de imprensa conjunta das duas fações políticas.
Foi precisamente neste ponto que fracassaram as anteriores discussões destinadas a bloquear a entrada da extrema-direita na esfera governativa, com os meios económicos e empresariais a recusarem qualquer aumento de impostos.
Num balanço das conversações, iniciadas na semana passada, Kickl anunciou um programa de austeridade de 6,3 mil milhões de euros "sem recorrer a novos impostos, quer sobre as heranças, doações ou património".
O acordo visa agora aprovar medidas contra as lacunas fiscais, os "privilégios", nomeadamente para os "milionários", com poupanças no "aparelho ministerial" e o fim dos "subsídios excessivos".
"Esta é a única forma de a Áustria moldar o seu próprio futuro, com as suas próprias mãos, e não ser controlada por Bruxelas", insistiu o líder nacionalista, sempre muito crítico em relação à UE.
Ao seu lado, o líder interino do partido conservador OVP, Christian Stocker, congratulou-se com a medida, que "deverá permitir reduzir o défice para menos de 3% até 2025", em conformidade com os critérios europeus de Maastricht, que estabelecem que o défice orçamental anual não deve exceder 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e o total da dívida pública não deve exceder 60% do PIB.
O país de 9,1 milhões de habitantes, que enfrenta dificuldades económicas na esteira da vizinha Alemanha, viu o seu défice orçamental aumentar para 3,7% no ano passado, segundo a agência Fitch, que acaba de pôr em causa a sua notação soberana.
As duas fações políticas estão bastante próximas nas questões económicas, mas será agora iniciada uma segunda fase de negociações, que deverá ser mais complicada devido às divergências em matéria de política externa e de Estado de direito.
No entanto, Kickl disse estar "confiante".
A direita já governou duas vezes com o FPO na Áustria, mas se as negociações forem bem-sucedidas, será o primeiro governo dominado pela extrema-direita na história moderna, com o radical Herbert Kickl como provável chanceler.
O FPO saiu vencedor das eleições legislativas do final de setembro, com uns históricos 29% dos votos.
Sem aliados, teve de deixar o caminho aberto aos seus adversários para negociar um governo antes da inesperada reviravolta nos conservadores e da demissão do seu líder, Karl Nehammer, no início de janeiro.
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