"Na sua história, a França nunca esteve tão endividada como atualmente. Nenhuma política de recuperação e de reconstrução será possível se não tiver em conta esta situação de endividamento excessivo e se não se propuser o objetivo de a conter e reduzir", afirmou François Bayrou, no seu discurso às 15:00 horas locais (14:00 de Lisboa) entre aplausos e contestação dos deputados.
O primeiro-ministro centrista considerou que "é preciso agir com determinação" face à "emergência" e "adotar sem demora o orçamento de Estado e o orçamento da segurança social", e depois "criar as condições de estabilidade" e "reconstruir a ação pública" no país.
Bayrou, nomeado em 13 de dezembro de 2024 pelo Presidente Emmanuel Macron, pretende rever o objetivo do défice público da França para 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, contra os cerca de 5% do Governo do seu antecessor Michel Barnier, que caiu após uma moção de censura parlamentar a 04 de dezembro.
"O Governo decidiu, portanto, rever a sua previsão de crescimento para 2025, que era de 1,1% antes da censura (do governo anterior), e fixamo-la em 0,9%, em conformidade com as previsões do Banco de França. Será proposto fixar o objetivo do défice público para 2025 em 5,4% do PIB", afirmou, referindo uma ligeira redução face aos 6,1% previstos para 2024.
Para Bayrou, um dos principais motivos de preocupação é "a dívida excessiva" do país, e a sua "equipa governamental", nomeada em 23 de dezembro, é a que melhor reflete "a união das grandes sensibilidades do país, com experiência e raízes: com personalidades fortes".
Tendo como "primeira prioridade" a reforma das pensões, "vital para a França e para o modelo social" e que "continua a atormentar" o país, Bayrou pretende renegociar em três meses com os sindicatos e os empregadores o aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos, plano de Macron que desencadeou meses de protestos em 2023.
"A única exigência que se coloca é que não podemos permitir que se agrave o equilíbrio financeiro que estamos a procurar e com o qual todos concordam", afirmou, acrescentando que se não houver acordo, a reforma manter-se-á nos 62 anos, tentando evitar também uma censura do seu Governo.
Esta era uma exigência dos socialistas (que fazem parte da coligação de esquerda Nova Frente Popular, NFP) em troca da sua recusa em votar a favor de uma moção de censura para derrubar o novo Governo, o que a França Insubmissa (LFI, esquerda radical), de Jean-Luc Mélenchon, já anunciou que vai apresentar imediatamente.
Bayrou recordou que são pagos anualmente cerca de 380 mil milhões de euros em pensões e que as contribuições cobrem cerca de 325 mil milhões de euros, o que significa que os restantes 55 mil milhões de euros devem ser assegurados pelos orçamentos das administrações públicas, que têm de recorrer a empréstimos, o que "está a colocar o peso nas gerações futuras".
Bayrou defendeu que os europeus "têm de mostrar quem são", após denunciar a invasão russa da Ucrânia, aludir ao expansionismo económico e diplomático chinês e lembrar que os Estados Unidos prosseguem com o próximo Presidente Donald Trump "a mesma política de dominação", a falar de anexações da Gronelândia e do Canadá.
"Passámos de um mundo da força da lei para um mundo da lei da força. (...) Se não reconstruirmos a nossa unidade (...) acabaremos inevitavelmente na submissão", alertou o novo chefe de Governo, considerando que a Europa precisa de se impor a "estas grandes potências".
Por essa razão, Bayrou, no seu discurso de uma hora e trinta minutos, considera que "a independência da França depende da independência da Europa e vice-versa", que deve tornar-se numa "comunidade estratégica, uma potência política e de defesa".
"A prosperidade da França depende da prosperidade da Europa, que é capaz, se assim o desejar, de se tornar o primeiro mercado mundial, de falar de tecnologia, de indústria e de agricultura em pé de igualdade com os Estados Unidos e a China", prosseguiu o primeiro-ministro.
[Notícia atualizada às 16h10]
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