Da saudação nazi às promessas. A tomada de posse de Trump por pontos

Eis os pontos altos da tomada de posse e algumas das (longas) ordens executivas decretadas pelo 47.º presidente norte-americano.

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© Anna Moneymaker/Getty Images/Bloomberg via Getty Images

Daniela Filipe com Lusa
21/01/2025 09:19 ‧ há 4 horas por Daniela Filipe com Lusa

Mundo

EUA

O republicano Donald Trump tomou posse como o 47.º presidente norte-americano, numa cerimónia que decorreu na segunda-feira, em Washington D.C., que ficou marcada pela presença de políticos internacionais populistas e de extrema-direita. Foram várias as promessas feitas pelo magnata, que prometeu atacar a "elite corrupta e radical" do país, ao mesmo tempo que assegurou que "a idade de ouro da América começa agora".

 

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, foi a única líder dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) presente na tomada de posse, onde também estiveram nomes como o presidente da Argentina, Javier Milei, uma delegação dos Patriotas pela Europa, encabeçada pelo líder da terceira maior força política do Parlamento Europeu, Santiago Abascal (Vox espanhol), e altos responsáveis do executivo do presidente chinês, Xi Jinping. Empresários e multimilionários também não perderam a cerimónia, nomeadamente o dono da rede social X (Twitter), da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, o presidente da Meta, Mark Zuckerberg, e o fundador da Amazon, Jeff Bezos.

Os antecessores de Trump, Joe Biden e Barack Obama - que não esteve acompanhado pela mulher, Michelle -, Bill Clinton e George W. Bush não faltaram.

Os momentos altos

Tentativa de beijo torna-se viral

A cartola alongada desenhada por Eric Javits e envergada por Melania Trump está a correr o mundo. Além de lhe ter tapado metade do rosto e de ter dado azo a ‘memes’, o acessório foi o grande protagonista do momento em que Trump e a esposa se ‘beijam no ar’, mantendo o casal à distância.

Melania, de 54 anos, foi ainda comparada a desenhos animados e a personagens de filmes, como o astuto vilão da McDonald's, o Hamburglar, Spy vs. Spye ou Stanley Ipkiss. Mas há mais: houve até quem dissesse que se vestiu adequadamente "para o funeral da América".

Musk acusado de fazer saudação nazi (por duas vezes)

Elon Musk, que liderará o Departamento de Eficiência Governamental, criado pelo governo de Donald Trump, foi acusado de fazer a saudação nazi durante o seu discurso, que se seguiu à tomada de posse do 47.º presidente dos Estados Unidos.

O bilionário, que agradecia aos presentes, bateu com a mão direita no peito, que ergueu, com o braço estendido - assemelhando-se ao gesto popularizado por Adolf Hitler. Repetiu, depois, a saudação, ao virar-se. O momento ficou eternizado em vídeo, que poderá ver aqui.

Trump presta juramento sem colocar a mão sobre a Bíblia

Donald Trump não colocou a mão sobre a Bíblia quando prestou juramento durante a sua tomada de posse. Ao invés, Melania Trump segurava a Bíblia pessoal do marido, que lhe foi oferecida pela mãe, e a Bíblia que o presidente Abraham Lincoln usou para prestar juramento, em 1861.

Saliente-se, contudo, que não há qualquer exigência legal para que o presidente coloque a mão sobre a Bíblia, apesar de ser uma prática usual.

De qualquer modo, o magnata não deixou de agradecer a um poder divino, ao ter considerado que foi “salvo por Deus para tornar a América grande de novo”.

“O caminho para recuperar a nossa república não tem sido fácil, isso posso dizer-vos. Aqueles que desejam travar a nossa causa tentaram tirar-me a liberdade e, na verdade, tirar-me a vida. Há apenas alguns meses, num belo campo da Pensilvânia, uma bala assassina atravessou a minha orelha, mas eu senti, nessa altura, e acredito, ainda mais agora, que a minha vida foi salva por uma razão”, reforçou.

Os indultos, as promessas e as ordens executivas

Novo presidente perdoa 1.500 atacantes do Capitólio...

O novo presidente dos Estados Unidos assinou na noite de segunda-feira um decreto a perdoar as cerca de 1.500 de pessoas condenadas pelo ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio.

O decreto surgiu pouco depois de o republicano ter anunciado que exerceria o seu poder de indulto logo no primeiro dia em funções, tal como tinha prometido durante a campanha eleitoral.

"Isto é para 6 de janeiro, para os reféns, cerca de 1.500 pessoas que serão completamente perdoadas", disse.

A decisão surgiu horas depois de cerca de 50 membros da organização ultranacionalista 'Proud Boys' terem marchado pelas ruas de Washington, exigindo o perdão dos seus membros presos.

...e assina ordem executiva para retirar os Estados Unidos da OMS

Trump assinou também uma ordem executiva para retirar os Estados Unidos da Organização Mundial de Saúde (OMS), um organismo que tinha criticado duramente pela forma como lidou com a pandemia.

"A OMS defraudou-nos", acusou, na segunda-feira, justificando a retirada com a diferença entre as contribuições financeiras dos Estados Unidos e da China para a organização.

No texto, Trump pediu que as agências federais "suspendam a futura transferência de quaisquer fundos, apoios ou recursos do governo dos EUA para a OMS" e orientou-as para "identificar parceiros norte-americanos e internacionais de confiança" capazes de "assumir as atividades anteriormente realizadas pela OMS".

Sublinhe-se que a saída dos Estados Unidos poderá obrigar a OMS uma grande reestruturação e prejudicar os esforços globais de saúde pública, incluindo a vigilância e a resposta a surtos.

Estados Unidos voltarão a sair do Acordo de Paris sobre o Clima

O líder anunciou ainda que voltará a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima, prejudicando os esforços mundiais para travar o aquecimento global.

Trump fez este anúncio no seu discurso de tomada de posse, no Capitólio, no qual também prometeu aumentar a produção de petróleo dos Estados Unidos e eliminar os subsídios criados pelo seu antecessor, o democrata Joe Biden, para a compra de veículos elétricos.

Trump restitui pena de morte a nível federal

Entre as ordens executivas que Trump assinou, há uma que restabelece a pena de morte a nível federal, ainda que Biden tenha comutado as sentenças de morte de todos os prisioneiros que se encontravam no corredor da morte, à exceção de três. A ordem de Trump também obriga à aplicação da pena de morte em qualquer caso em que alguém seja condenado por assassinar um agente da autoridade ou se um migrante sem documentos for condenado por um crime elegível para essa punição.

Canadá e México são os primeiros alvos da guerra comercial

O presidente dos Estados Unidos abriu a frente de uma guerra comercial, confirmando a intenção de impor tarifas de 25% sobre os produtos do Canadá e México, a partir de 1 de fevereiro.

"Estamos a considerar [tarifas] na ordem dos 25% sobre o México e o Canadá, porque eles deixam muita gente (...) entrar [nos Estados Unidos], e muito fentanil também", disse, poucas horas depois da sua tomada de posse.

O republicano anunciou durante a campanha a intenção de introduzir rapidamente direitos aduaneiros de 25% sobre todos os produtos provenientes do México e do Canadá, se estes países não travassem o fluxo de droga e de imigrantes ilegais para os Estados Unidos.

Trump promete (novamente) controlar Canal do Panamá e rebatizar Golfo do México...

Donald Trump prometeu assumir o controlo do Canal do Panamá, rebatizar o Golfo do México e reforçar a tributação dos países estrangeiros, confirmando intenções já expressadas para o segundo mandato na Casa Branca.

No seu discurso na cerimónia de tomada de posse, Donald Trump sublinhou que o objetivo do acordo e o espírito do tratado em relação ao Canal do Panamá "foram totalmente violados", prometendo assumir controlo desta infraestrutura marítima vital para o comércio global.

"E o mais importante, a China opera o Canal do Panamá, e nós não o demos à China, demos ao Panamá. E vamos tomá-lo de volta", justificou.

Noutra intenção já anteriormente expressada, Trump confirmou também que, em breve, vai mudar o nome do Golfo do México para "Golfo da América".

… E expulsar "milhões e milhões" de imigrantes ilegais

O responsável assegurou que expulsará "milhões e milhões" de imigrantes ilegais, um dos principais focos da sua campanha eleitoral.

"Primeiro, declararei o estado de emergência na nossa fronteira sul" com o México, disse o presidente, acrescentando que enviará o Exército para patrulhar essa região.

"Todas as entradas ilegais serão imediatamente bloqueadas e iniciaremos o processo de devolução de milhões e milhões de estrangeiros criminosos para onde vieram", acrescentou.

Entretanto, a nova equipa da Casa Branca já anunciou que Trump vai terminar com o mecanismo CBP One - uma aplicação móvel da era Biden que permitiu dar entrada legal a quase um milhão de imigrantes através de entrevistas 'online', autorizando os solicitantes de asilo e outros migrantes a agendar horários para se apresentarem em pontos de entrada na fronteira entre o México e os Estados Unidos.

O novo presidente também anunciou que designará os cartéis de tráfico de droga como "organizações terroristas estrangeiras", invocando uma lei de 1798 contra Inimigos Estrangeiros, dando "poder total" às agências federais para "eliminar a presença de todos os gangues estrangeiros e redes criminosas que trazem o crime devastador para solo dos Estados Unidos".

Trump emitiu ainda ordens executivas para reformular as políticas de imigração, pondo fim ao acesso ao asilo e à cidadania por direito de nascimento.

Magnata quer levar bandeira norte-americana a Marte

Donald Trump afirmou que pretende levar a bandeira norte-americana ao planeta Marte durante a sua administração, alcançando "novos e gloriosos horizontes".

"Perseguiremos o nosso destino manifesto nas estrelas, lançando astronautas americanos para plantar 'as estrelas e as listas' [da bandeira dos Estados Unidos] no planeta Marte", declarou, sem fornecer detalhes.

Trump reconhecerá apenas "dois géneros"

O presidente assinou uma ordem executiva que obriga a sua administração a "reconhecer" apenas "dois géneros", prometendo "acabar com a ilusão dos transgéneros".

A ordem executiva visa "defender as mulheres do extremismo ideológico de género e restaurar a verdade biológica no Governo federal", disse um funcionário aos jornalistas sob condição de anonimato, acrescentando que a identidade sexual dos indivíduos passaria a ser definida exclusivamente pelos gâmetas que produzem.

"O que estamos a fazer hoje é afirmar que a política dos Estados Unidos é reconhecer dois géneros: masculino e feminino", disse a mesma fonte, citada pelas agências internacionais.

O responsável pretende também abolir as ajudas federais aos programas de apoio à diversidade na administração, por considerar que os Estados Unidos estão ameaçados por uma "invasão" de ideias progressistas.

E quanto às guerras?

Trump revoga sanções contra colonos israelitas na Cisjordânia...

O novo presidente dos Estados Unidos revogou uma ordem executiva emitida pelo antecessor, Joe Biden, que punia os colonos israelitas acusados de violência contra os palestinianos na Cisjordânia ocupada.

Mal tomou posse na segunda-feira, o Presidente republicano anulou o texto adotado em fevereiro de 2024, que tinha sido a condição prévia para a aplicação de sanções financeiras a vários colonos, incluindo um indivíduo acusado de instigar um motim na cidade palestiniana de Huwara, a sul de Nablus, que levou à morte de um civil palestiniano.

Na altura, Joe Biden denunciou como intolerável a violência dos colonos israelitas, que descreveu como uma "séria ameaça à paz, à segurança e à estabilidade" na região.

...e pressiona Putin a negociar acordo de paz com a Ucrânia

Trump convocou pela primeira vez Vladimir Putin para encontrar um acordo de paz com a Ucrânia, sob pena de a Rússia correr o risco de ser destruída. Antes, ao felicitar o 47.º Presidente dos Estados Unidos, o líder russo também prometeu procurar uma "paz duradoura" com Kyiv.

Ao regressar à Sala Oval para assinar uma série de ordens executivas, Donald Trump reafirmou que "tinha de falar com o presidente Putin (...), que ficará muito feliz por pôr fim a esta guerra".

Pela primeira vez, no entanto, Trump pressionou claramente Putin a encontrar uma solução para a guerra, ao considerar que a Rússia estará a caminhar para o desastre se se recusar a negociar e a selar um cessar-fogo ou um acordo de paz com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

"Zelensky quer fazer um acordo. Não sei se Putin o quer, se calhar não quer. [Mas] devia. Acho que ele está a destruir a Rússia ao não encontrar um acordo", disse.

Leia Também: Onda de saídas exigidas atinge postos superiores do Departamento de Estado

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